quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os espinhos da mediunidade


>

Os espinhos da mediunidade


Todos sabemos da grande responsabilidade que se assume no dia em que participamos numa reunião espírita, candidatando-se ao posto de interprete dos espíritos.


O desejo de ser médium, de praticar o intercambio com o mundo dos espíritos, de manter conversas com os nossos Guias espirituais, ou com os nossos seres queridos que partira para o Além , é natural.

Mas o que muitos ignoram é que os bons frutos que a mediunidade venham a dar dependem, entre muitos outros requisitos importantes, da maneira pela qual ela é desenvolvida.


Na verdade, a mediunidade não deve ser provocada. Na devida altura e quer se trata de espíritas ou de adeptos de quaisquer outras religiões, ela vai apresentar-se naturalmente, de modo suave ou violento, conforme as faixas vibratórias que nos rodearem então.


Quando se trata de uma pessoa ponderada, estudiosa, fiel à ideia de Deus e com boas qualidades morais, a mediunidade costuma desabrochar suavemente, através dos canais da fé e da ajuda ao próximo.

Nessa altura, vemos o adepto de qualquer credo religioso, inclusivamente o espírita, impor as mãos sobre quem sofre e transmitir o generoso fluído da cura, do alivio ou da esperança, ao angustiado ou ao aflito, sem que seja preciso uma procura sistemática do desenvolvimento mediúnico a qual, na maior parte das vezes, tem tendência a prejudicar o médium para sempre.


E vemos igualmente grandes manifestações, conflitos, doenças e até obsessões, cuja chegada se dá, como é óbvio, à revelia do individuo que lhe sofre o influxo.

Se tal acontecer, e se o médium não conhecer os princípios da Doutrina Espírita, é só orientar-lhe a mediunidade e instrui-lo; tratá-lo, se estiver doente, e deixá-lo praticar o bem com o dom que recebeu da Natureza.

São exemplos destes que vemos quase diariamente (pois conhecemos pessoas de outros credos religiosos que também curam com a imposição das mãos), e lições que temos que respeitar, já que nos indicam que eles são médiuns mais seguros, visto serem espontâneos, a sua mediunidade desabrochou quando devia, sem que tivesse havido um longo período de reuniões para provocar o seu desenvolvimento, períodos estes que, além de incómodos, são muitas vezes contraproducentes….


Muitos candidatos ao exercício da mediunidade perguntam-nos com frequência se os podemos esclarecer sobre suas respectivas situações, como pretendentes ao intercâmbio com o invisível. Sentem-se confusos , inquietos e vacilantes, ao não terem obtido nada de positivo depois de um , dois, ou mais anos de esforços no desenvolvimento, facto este que , só por si é suficiente para indicar os pouquíssimos recursos mediúnicos da candidato, o qual, contudo, é sincero e está bem assistido pelo seu Espírito familiar, não se deixando enredar nas teias da auto-sugestão.


Mas, que esforços é que ele fez? Apenas e só estar presente na mesa de reuniões, insistir, quase aflitivamente, a fim de conseguir escrever mensagens lindas, ou então fazer palestras que satisfazem quem as ouve.

Muitas vezes, para não dizer, regra geral, o desenvolvimento vem, não propriamente da faculdade mediúnica, mas sim da mente do médium, que se auto-estimula esta maneira, fazendo com que se dê aquilo que é menos desejável: a subconsciência do médium, excitada pelo esforço e pela vontade, começa a agir por si próprio como se fosse um agente desencarnado; a sua mente exterioriza-se em comunicações apócrifas, que só servem para embaciar a verdadeira faculdade e para empalidecer o brilho deste “dom” sublime outorgado ao homem por Deus.


Muitos daqueles que insistem no seu próprio desenvolvimento mediúnico, asseguram que determinado Espírito lhes garantiu que são médiuns desta ou daquela especialidade psicógrafica, de incorporação, de vidência, etc. No entanto, os mestres do Espiritismo, como Allan Kardec e léon Denis à cabeça, assim como os instrutores Espirituais que merecem crédito (porque há os pseudo mentores espirituais) sempre disseram que “ não há nenhum indicio que revela a existência da faculdade mediúnica. Só a experiência pode revelá-la”, seja ela qual for: psicógrafica, incorporação ou outra qualquer.


É claro que nada impede que experimentemos o nosso potencial. Mas a prática tem demonstrado que a experiência não deve ultrapassar alguns meses; caso não se obtêm nada durante esse período, deve-se desistir, precisamente para a eventual faculdade fique protegida contra invasão doutros fenómenos também psíquicos, mas não mediúnicos, isto é, aqueles a que actualmente se dá o nome de “parapsicológicos” e aos quais, até agora, nós temos chamado de “animismo”, auto-sugestão, etc.


O desejo veemente de ser médium chega às vezes ao ponto de se exercitar a vidência! Ora a vidência é uma faculdade muito melindrosa que não pode estar sujeita a tal tratamento, pois corre o perigo de sofrer graves distúrbios. Não deve nunca ser provocada, a não ser que se queira ficar sugestionado e pensar que se está a ver coisas: a partir daí, vão-se formar os chamados “clichés mentais”, ou seja, a “ideoplastia” ( a ideia plasmada na mente pela vontade). É bom não esquecer que o pensamento cria, constrói e realiza, mesmo que não concretize materialmente aquilo que mentaliza (vide cap.VIII “O livro dos médiuns”.


Sobre os espinhos que as vezes dilaceram quem tem mediunidade, o investigador e analista italiano Ernesto Bozzano fez umas observações muito elucidativas e no seu livro “pensamento e vontade” ; o francês Léon Denis, o continuador de Allan Kardec, na sua obra “No invisível”dá-nos importantes esclarecimentos; e Kardec, para além das lições gerais, diz o seguinte sobre a vidência:”A faculdade de ver os espíritos pode como é obvio ser desenvolvida, mas é uma daquelas em que convém esperar pelo desenvolvimento natural e não o provocar, a não ser que se queira ser manipulado pela própria imaginação. Quando a semente duma faculdade existe, esta manifesta-se por si própria. Por principio, devemos contentar-nos com as que Deus nos concedeu, sem procurarmos o impossível, pois se pretendemos ter muito, corremos o risco de perder o que possuímos.

Quando dissemos que eram frequentes os casos de aparições espontâneas, não quisemos dizer que eram comuns. Quanto aos médiuns videntes propriamente ditos, são ainda raros, e deve-se desconfiar bastante dos que se intitulam portadores desta faculdade. Manda a prudência não lhes dar crédito, a não ser perante provas evidentes(….)


Portanto, deste aviso do ilustre mestre, deduzimos que é absurdo ( e a experiência tem vindo a demonstrar que assim é) fazer exercícios com o fim de desenvolver a vidência, assim como entregar-se nas mãos de professores videntes. A vidência é uma manifestação espírita como qualquer outra e, assim sendo, os seus registos devem ser examinados por pessoas competentes e experientes, que os irão passar pelo crivo da razão e do bom senso, a fim de serem aceites.


Ainda sabermos pouco sobre a mediunidade. Mas sentimo-la intensamente e presenciamos os seus efeitos. Ainda nos encontramos na introdução da questão, apesar da mediunidade existir desde sempre, o que revela ser um “dom” concebido por Deus.


Mas o que dela já se sabe, apesar da nossa ignorância a seu respeito, cabe em vários volumes, como efectivamente tem cabido, pois há vários livros sobre este magno assunto.

Uma das facetas mais importantes da mediunidade, e que não podemos ignorar porque o Alto sobre este ponto nos esclarece e a observação confirma-o, é que a prática da caridade e do amor ao próximo não só é indispensável ao bom desenvolvimento da faculdade, mas também é uma poderosa garantia para o seu feliz exercício. Claro que não nos referimos à caridade interesseira e só de fachada, mas sim à que é inspirada pelo verdadeiro sentimento do coração. Assim, o candidato a intérprete do mundo espiritual, deve iniciar o seu compromisso frequentando as reuniões mediúnicas, praticando o bem, através do auxilio prestado a quem está em sofrimento, estudando a Doutrina Espírita conscienciosamente e empenhando-se a fundo na sua gradual reforma moral.


Se agir assim, quando lhe chegarem os sinais que indicam que realmente possui faculdades a desenvolver, estas irão aparecer suavemente, sem choque, dado que estão protegidas pelas faixas vibratórias da caridade.

E é bom repetir: convém não precipitar o desenvolvimento mediúnico. O seu progresso é lento; ao que tudo indica, a mediunidade desdobra-se infinitamente, pelo que o médium nunca está completamente desenvolvido, especialmente nos penosos dias actuais, em que mil e um problemas chocam à sua volta. Quando mais a educarmos na submissão às leis divinas, mais ela se irá ampliar e crescer na rota dos conhecimentos espirituais.

Pelo oposto, vemos que não há médiuns extraordinários nem eleitos da mediunidade, pelo que não devemos deixar-nos fanatizar, fazendo dos médiuns uns deuses, como se fossem homens e mulheres à parte na escala humana. Eles são apenas instrumentos das forças invisíveis do Além, ora bons, ora maus, consoante a maneira como agem no seu dia-a-dia. E deixarão de ser médiuns se os espíritos já não puderem ou quiserem servir-se deles.


Portanto, convém que os candidatos pensem detidamente no papel que irão representar na seara de Jesus, o nosso Mestre Guia Maior.


Autor desconhecido

Nenhum comentário: