
Intuição das Penas Futuras
1 — Em todos os tempos o homem acreditou, por intuição, que a vida futura devia ser feliz ou infeliz segundo o bem ou o mal que se tivesse feito neste mundo. Mas a ideia que ele fez a respeito estava em relação com o desenvolvimento do seu senso moral e com as noções mais ou menos justas que possuía do bem e do mal. As penas e as recompensas são reflexos dos instintos que nele predominavam.
Foi assim que os povos guerreiros colocaram as suas supremas felicidades nas honrarias tributadas à bravura; os povos caçadores na abundância da caça; os povos sensuais nos prazeres da voluptuosidade. Enquanto dominado pela matéria o homem só pode compreender imperfeitamente a espiritualidade. Foi por isso que ele fez das penas e dos gozos futuros um quadro mais material do que espiritual. Imaginou que se deve beber e comer no outro mundo, mas de maneira melhor do que na Terra e servindo-se de coisas melhores.
Mais tarde vamos encontrar nas crenças sobre o futuro uma mistura de espiritualidade e materialidade. É assim que ao lado da bem-aventurança contemplativa ele coloca um inferno de torturas físicas.
2 — Não podendo conceber se não o que via, o homem primitivo decalcou naturalmente o seu futuro da vida presente. Para compreender coisas diferentes das que tinha sob os olhos faltava-lhe o desenvolvimento intelectual que só devia realizar-se com o tempo. Da mesma maneira, o quadro que compôs dos castigos da vida futura é o reflexo das maldades humanas, mas em maior proporção. Reuniu todas as torturas, todos os suplícios, todas as aflições que encontrou na Terra. É assim que nas regiões de clima quente imaginou um inferno de fogo e nas regiões boreais um inferno de gelo. Não estando ainda desenvolvido o sentido que mais tarde lhe permitiria compreender o mundo espiritual, ele só podia conceber penalidades materiais. Eis porque, com algumas pequenas diferenças formais, o inferno é semelhante em todas as religiões.
Referência: O céu e o inferno
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