segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ferrugem na alma

Certo dia Vera entrou em casa cheia de raiva, e reclamou para a mãe: — Não suporto mais a Carla, mamãe! Tudo que eu quero fazer ela não aceita. Se eu quero pular corda, ela quer brincar de casinha; se quero brincar com boneca, ela quer passear de bicicleta. Assim não dá! Não brinco mais com ela! Tentando acalmá-la, a mãe lembra: — Mas vocês sempre foram tão amigas, Verinha! Procure saber o que está acontecendo com ela. Tenha paciência, filha. — Não, mamãe, chega! Não falo mais com a Carla. Não vou perdoá-la nunca! A mãe percebeu que, naquela hora, não adiantava dizer nada; a filha estava nervosa. Apenas abraçou-a com amor, para deixá-la mais tranquila. Alguns dias se passaram. Vera e Carla continuavam brigadas. Certo dia, Carla foi até a casa da amiga e bateu à porta. A mãe de Verinha veio atender, satisfeita ao vê-la: — Que bom, Carla! Entre, vou chamar Verinha — disse, saindo da sala para avisar a filha de que tinha visita. A menina veio correndo. Mas, ao ver que era Carla, ficou vermelha de raiva e gritou:

 — Saia da minha casa. Não quero vê-la. Estou com raiva de você. Carla levou um susto diante daquela reação que não esperava, e saiu correndo a chorar e gritar que nunca mais voltaria ali. A mãe olhou para a filha com expressão de tristeza e disse: — Espero que você saiba o que está fazendo, filha. Acaba de perder uma amizade por orgulho. Vera correu para seu quarto, triste. Durante muitos dias, ela não conseguia se perdoar pelo que tinha feito à amiga. Certo dia, vendo que a filha estava sofrendo bastante, a mãe levou-a até o quintal e mostrou-lhe a bicicleta nova que ela não mais usara. — Veja, filha! Sua bicicleta está começando a ficar com ferrugem! — O que é ferrugem, mamãe? A mãe explicou que ferrugem é uma substância que corrói o ferro, estragando-o. E que isso estava acontecendo porque a filha não estava dando atenção à sua bicicleta, não dava banho nem saía com ela. Enfim, que Vera a tinha abandonado! Preocupada, pois gostava muito da bicicleta, Vera perguntou: — E como faço para tirar a ferrugem, mamãe? — É preciso limpar bem a bicicleta, depois lavá-la e enxugá-la com cuidado. Em seguida, passar um produto que combate a ferrugem. Verinha, resolvida, pegou pequena bacia com água, um pedaço de sabão e uma esponja. Depois, pôs-se a lavar sua bicicleta. Ao terminar, a bicicleta já estava com outra aparência, bem mais bonita. Satisfeita, a menina pediu à mãe o líquido contra a ferrugem, que ela trouxe e orientou a filha como aplicá-lo. Assim, Vera molhou um pano limpo no líquido e foi passando em toda a bicicleta, em especial onde a ferrugem tinha atacado mais. Ao acabar, a bicicleta estava linda e brilhava! Satisfeita, Verinha olhou para a mãe, que sorriu: — Sua bicicleta está realmente parecendo nova, filha. Você fez um belo trabalho!

 Vera sentou-se num banquinho e ficou olhando a bicicleta. A mãe, aproveitando o momento, explicou: — Verinha, você sabe que a ferrugem também ataca a alma? A menina olhou espantada para a mãe, que prosseguiu: — Sim, filha! Quando deixamos que sentimentos negativos dominem nosso coração e nossa mente, é como ferrugem na alma! A falta do perdão é um deles, que ataca nosso íntimo corroendo nossa boa disposição. Verinha pensou um pouco, entendendo o que a mãe quis dizer, e indagou: — E qual é o produto que limpa essa ferrugem da alma, mamãe? — É o AMOR, filha. Só o amor pode modificar nossos sentimentos. Através da compreensão, do perdão, da generosidade, retira a ferrugem da nossa alma, fazendo com que possamos brilhar de novo. A filha mostrou que tinha entendido. Depois, disse à mãe que ia à casa da sua amiga Carla. Comovida, a mãe abraçou sua filha, concordando: — Acho que deve mesmo ir visitá-la, Verinha.

 A menina correu até a casa de Carla, que morava bem perto. Ela veio abrir a porta e, ao ver Verinha, sorriu satisfeita. Verinha pediu: — Carlinha, você me perdoa pelo que lhe fiz? Não sabia o que estava fazendo para mim mesma! Quer voltar a ser minha amiga? Surpresa, Carla respondeu: — Claro que quero ser sua amiga. Aliás, nunca deixei de ser. Foi você que se afastou de mim. Mas o que aconteceu para você mudar de ideia, Verinha? — Ah! É que descobri que não era só minha bicicleta que estava enferrujada; eu também tinha ferrugem na alma! Mas, depois eu lhe conto tudo direitinho! Agora, vamos brincar? — Claro, Verinha! Vamos brincar sim! Do que você quer brincar? — Pode escolher, Carla! Não faço questão. — Ah! Você mudou mesmo! E o que é essa tal de “ferrugem na alma”? Nunca ouvi falar! — É quando o rancor toma conta do nosso coração e deixamos de amar às outras pessoas. E assim, conversando alegremente, elas resolveram fazer um passeio de bicicleta pelo quarteirão. Ambas estavam felizes e a amizade voltara a brilhar dentro delas.

 MEIMEI (Recebida por Célia X. de Camargo, em 16/6/2014.)
 Fonte: Revista "O Consolador"

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