quinta-feira, 27 de março de 2008

Da probição de evocar os mortos


DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS

1. - A Igreja de modo algum nega a realidade das manifestações. Ao contrário,
como vimos nas citações precedentes, admite-as totalmente, atribuindo-as à exclusiva
intervenção dos demónios. É debalde invocar os Evangelhos como fazem alguns para
justificar a sua interdição, visto que os Evangelhos nada dizem a esse respeito. O
supremo argumento que prevalece é a proibição de Moisés. A seguir damos os termos
nos quais se refere ao assunto a mesma pastoral que citamos nos capítulos
precedentes:
"Não é permitido entreter relações com eles (os Espíritos), seja imediatamente,
seja por intermédio dos que os evocam e interrogam. A lei moisaica punia os gentios.
Não procureis os mágicos, diz o Levítico, nem procureis saber coisa alguma dos
adivinhos, de maneira a vos contaminardes por meio deles. (Cap. XIX, v. 31.) Morra de
morte o homem ou a mulher em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados e
sobre eles recaia seu sangue. (Cap. XX, v. 27.) O Deuteronômio diz: Nunca exista entre
vós quem consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem use de
malefícios, sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico e
se dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor abomina todas
essas coisas e destruirá, à vossa entrada, as nações que cometem tais crimes." (Cap.
XVIII, vv. 10, 11 e 12.)

2. - É útil, para melhor compreensão do verdadeiro sentido das palavras de
Moisés, reproduzir por completo o texto um tanto abreviado na citação antecedente.
Ei-lo:
"Não vos desvieis do vosso Deus para procurar mágicos; não consulteis os
adivinhos, e receai que vos contamineis dirigindo-vos a eles. Eu sou o Senhor vosso
Deus." (Levítico, cap. XIX, v. 31.) O homem ou a mulher que tiver Espírito pitônico, ou
de adivinho, morra de morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairá sobre eles."
(Idem, cap. XX, v. 27.) Quando houverdes entrado na terra que o Senhor vosso Deus
vos há de dar, guardai-vos; tomai cuidado em não imitar as abominações de tais
povos; - e entre vós ninguém haja que pretenda purificar filho ou filha passando-os
pelo fogo; que use de malefícios, sortilégios e encantamentos: que consulte os que
têm o Espírito de Piton e se propõem adivinhar, interrogando os mortos para saber a
verdade. O Senhor abomina todas essas coisas e exterminará todos esses povos, à
vossa entrada, por causa dos crimes que têm cometido. (Deuteronômio, cap. XVIII, vv.
9, 10, 11 e 12.)

3. - Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente observada neste ponto, força
é que o seja igualmente em todos os outros. Por que seria ela boa no tocante às evocações e má em outras de suas partes? É preciso ser consequente. Desde que se
reconhece que a lei moisaica não está mais de acordo com a nossa época e costumes
em dados casos, a mesma razão procede para a proibição de que tratamos.
Demais, é preciso expender os motivos que justificavam essa proibição e que
hoje se anularam completamente. O legislador hebreu queria que 'o seu povo abandonasse todos os costumes adquiridos no Egipto, onde as evocações estavam em uso e facilitavam abusos, como se infere destas palavras de Isaías: "O Espírito do Egipto se aniquilará de si mesmo e eu precipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos,
seus adivinhos, seus pitons e seus mágicos." (Cap. XIX, v. 3.)

Os israelitas não deviam contratar alianças com as nações estrangeiras, e
sabido era que naquelas nações que iam combater encontrariam as mesmas práticas.
Moisés devia pois, por política, inspirar aos hebreus aversão a todos os costumes que
pudessem ter semelhanças e pontos de contacto com o inimigo. Para justificar essa
aversão, preciso era que apresentasse tais práticas como reprovadas pelo próprio
Deus, e dai estas palavras: - "O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, à
vossa chegada, as nações que cometem tais crimes."

4. - A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não
se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo
antes um recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados
pelo charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram
objecto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las dos
costumes populares.
As seguintes palavras do profeta justificam o asserto: - "Quando vos disserem:
Consultai os mágicos e adivinhos que balbuciam encantamentos, respondei: -Não
consulta cada povo ao seu Deus? E aos mortos se fala do que compete aos vivos?"
(Isaías, cap. VIII, v. 19.) "Sou eu quem aponta a falsidade dos prodígios mágicos; quem
enlouquece os que se propõem adivinhar, quem transtorna o espírito dos sábios e
confunde a sua ciência vã." (Cap. XLIV, v. 25.)
"Que esses adivinhos, que estudam o céu, contemplam os astros e contam os
meses para fazer predições, dizendo revelar-vos o futuro, venham agora salvar-vos. -
Eles tornaram-se como a palha, e o fogo os devorou; não poderão livrar suas almas do
fogo ardente; não restarão das chamas que despedirem, nem carvões que possam
aquecer, nem fogo ao qual se possam sentar. - Eis ao que ficarão reduzidas todas
essas coisas das quais vos tendes ocupado com tanto afinco: os traficantes que convosco traficam desde a infância foram-se, cada qual para seu lado, sem que um só deles se encontre que vos tire os vossos males." (Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15.)

Neste capítulo Isaías dirige-se aos babilônios sob a figura alegórica "da virgem
filha de Babilônia, filha de caldeus". (v. 1.) Diz ele que os adivinhos não impedirão a
ruína da monarquia. No seguinte capítulo dirige-se directamente aos israelitas.
"Vinde aqui vós outros, filhos de uma agoureira, raça dum homem adúltero e de
uma mulher prostituída. - De quem vos rides vós? Contra quem abristes a boca e
mostrastes ferinas línguas? Não sois vós filhos perversos de bastarda raça - vós que
procurais conforto em vossos deuses debaixo de todas as frontes, sacrificando-lhes
os tenros filhinhos nas torrentes, sob os rochedos sobranceiros? Depositastes a
vossa confiança nas pedras da torrente, espalhastes e bebestes licores em sua honra,
oferecestes sacrifícios. Depois disso como não se acender a minha indignação?" (Cap.
LVII, vv. 3, 4, 5 e 6.)
Estas palavras são inequívocas e provam claramente que nesse tempo as
evocações tinham por fim a adivinhação, ao mesmo tempo que constituíam comércio,
associadas às práticas da magia e do sortilégio, acompanhadas até de sacrifícios
humanos. Moisés tinha razão, portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as
abominava.
Essas práticas supersticiosas perpetuaram-se até à Idade Média, mas hoje a
razão predomina, ao mesmo tempo que o Espiritismo veio mostrar o fim
exclusivamente moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo.
Uma vez, porém, que os espíritas não sacrificam criancinhas nem fazem
libações para honrar deuses; uma vez que não interrogam astros, mortos e áugures
para adivinhar a verdade sabiamente velada aos homens; uma vez que repudiam
traficar com a faculdade de comunicar com os Espíritos; uma vez que os não move a
curiosidade nem a cupidez, mas um sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e
melhorar-se, aliviando as almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é - a proibição de Moisés não lhes pode ser extensiva.
Se os que clamam injustamente contra os espíritas se aprofundassem mais no
sentido das palavras bíblicas, reconheceriam que nada existe de análogo, nos
princípios do Espiritismo, com o que se passava entre os hebreus. A verdade é que o
Espiritismo condena tudo que motivou a interdição de Moisés; mas os seus
adversários, no afã de encontrar argumentos com que rebatam as novas ideias, nem se
apercebem que tais argumentos são negativos, por serem completamente falsos.
A lei civil contemporânea pune todos os abusos que Moisés tinha em vista
reprimir.
Contudo, se ele pronunciou a pena última contra os delinquentes, é porque lhe
faleciam meios brandos para governar um povo tão indisciplinado. Esta pena, ao
demais, era muito prodigalizada na legislação moisaica, pois não havia muito onde
escolher nos meios de repressão. Sem prisões nem casas de correcção no deserto,
Moisés não podia graduar a penalidade como se faz em nossos dias, além de que o
seu povo não era de natureza a atemorizar-se com penas puramente disciplinares.
Carecem portanto de razão os que se apoiam na severidade do castigo para provar o
grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Conviria, por consideração à lei de
Moisés, manter a pena capital em todos os casos nos quais ele a prescrevia? Por que,
então, reviver com tanta insistência este artigo, silenciando ao mesmo tempo o
principio do capítulo que proíbe aos sacerdotes a posse de bens terrenos e partilhar de
qualquer herança, porque o Senhor é a sua própria herança? (Deuteronômio, cap.
XXVIII, vv. 1 e 2.)

5. - Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propriamente dita,
promulgada sobre o Sinal, e a lei civil ou disciplinar, apropriada aos costumes e carácter
do povo. Uma dessas leis é invariável, ao passo que a outra se modifica com o tempo,
e a ninguém ocorre que possamos ser governados pelos mesmos meios por que o
eram os judeus no deserto e tampouco que os capitulares de Carlos Magno se moldem à França do século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo, em reviver este artigo da lei moisaica: "Se um boi escornar um homem ou mulher, que disso morram, seja o boi apedrejado e ninguém coma de sua carne; mas o dono do boi será julgado inocente"? (Êxodo, cap. XXI, vv. 28 e seguintes.)
Este artigo, que nos parece tão absurdo, não tinha, no entanto, outro objectivo
que o de punir o boi e inocentar o dono, equivalendo simplesmente à confiscação do
animal, causa do acidente, para obrigar o proprietário a maior vigilância. A perda do
boi era a punição que devia ser bem sensível para um povo de pastores, a ponto de
dispensar outra qualquer; entretanto, essa perda a ninguém aproveitava, por ser
proibido comer a carne. Outros artigos prescrevem o caso em que o proprietário é
responsável.
Tudo tinha sua razão de ser na legislação de Moisés, uma vez que tudo ela
prevê em seus mínimos detalhes, mas a forma, bem como o fundo, adaptavam-se às
circunstâncias ocasionais Se Moisés voltasse em nossos dias para legislar sobre uma
nação civilizada, decerto não lhe daria um código igual ao dos hebreus.

6. - A esta objecção opõem a afirmativa de que todas as leis de Moisés foram
ditadas em nome de Deus, assim como as do Sinal. Mas julgando-as todas de fonte
divina, por que ao decálogo limitam os mandamentos? Qual a razão de ser da
diferença? Pois não é certo que se todas essas leis emanam de Deus devem todas ser
igualmente obrigatórias? E por que não conservaram a circuncisão, à qual Jesus se
submeteu e não aboliu? Ah! esquecem que, para dar autoridade às suas leis, todos os
legisladores antigos lhes atribuíam uma origem divina. Pois bem: Moisés, mais que
nenhum outro, tinha necessidade desse recurso, atento o carácter do seu povo; e se, a
despeito disso, ele teve dificuldade em se fazer obedecer, que não sucederia se as leis
fossem promulgadas em seu próprio nome!
Não veio Jesus modificar a lei moisaica, fazendo da sua lei o código dos
cristãos?

Não disse ele: - "Vós sabeis o que foi dito aos antigos, tal e tal coisa, e eu vos
digo tal outra coisa?" Entretanto Jesus não proscreveu, antes sancionou a lei do Sinai,
da qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus nunca aludiu em
parte alguma à proibição de evocar os mortos, quando este era um assunto bastante
grave para ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo ele tratado de outros
assuntos secundários.

7. - Finalmente convém saber se a Igreja coloca a lei moisaica acima da
evangélica, ou por outra, se é mais judia que cristã. Convém também notar que, de
todas as religiões, precisamente a judia é que faz menos oposição ao Espiritismo,
porquanto não invoca a lei de Moisés contrária às relações com os mortos, como
fazem as seitas cristãs.

8. - Mas temos ainda outra contradição: - Se Moisés proibiu evocar os mortos, é
que estes podiam vir, pois do contrário inútil fora a proibição. Ora, se os mortos
podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje; e se são Espíritos de mortos os
que vêm, não são exclusivamente demónios. Demais, Moisés de modo algum fala
nesses últimos.
É duplo, portanto, o motivo pelo qual não se pode aceitar logicamente a
autoridade de Moisés na espécie, a saber: - primeiro, porque a sua lei não rege o Cristianismo; e, segundo, porque é imprópria aos costumes da nossa época. Mas,
suponhamos que essa lei tem a plenitude da autoridade por alguns outorgada, e ainda
assim ela não poderá, como vimos, aplicar-se ao Espiritismo. É verdade que a
proibição de Moisés abrange a interrogação dos mortos, porém de modo secundário,
como acessória às práticas da feitiçaria..
O próprio vocábulo interrogação, junto aos de adivinho e agoureiro, prova que
entre os hebreus as evocações eram um meio de adivinhar; entretanto, os espíritas só
evocam mortos para receber sábios conselhos e obter alivio em favor dos que sofrem,
nunca para conseguir velações ilícitas. Certo, se os hebreus usassem das comunicações como fazem os espíritas, longe de as proibir, Moisés acoroçoá-las-ia, porque o seu povo só teria que lucrar.

9. - É certo que alguns críticos jucundos ou mal-intencionados têm descrito as
reuniões espíritas como assembleias de nigromantes ou feiticeiros, e os médiuns
como astrólogos e ciganos, isto porque talvez quaisquer charlatães tenham afeiçoado
tais nomes às suas práticas, que o Espiritismo não pode, aliás, aprovar.
Em compensação, há também muita gente que faz justiça e testemunha o carácter essencialmente moral e grave das reuniões sérias. Além disso, a Doutrina, em
livros ao alcance de todo o mundo, protesta bem alto contra os abusos, para que a
calúnia recaia sobre quem merece.

10. - A evocação, dizem, é uma falta de consideração para com os mortos, cujas
cinzas devem ser respeitadas. Mas quem é que diz tal? São os antagonistas de dois
campos opostos, isto é, os incrédulos que nas almas não crêem, e os crédulos que
pretendem que só os demónios, e não as almas, podem vir.
Quando a evocação é feita com recolhimento e religiosamente; quando os
Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição e
simpatia, com desejo sincero de instrução e progresso, não vemos nada de irreverente
em apelar-se para as pessoas mortas, como se fizera com os vivos. Há, contudo, uma
outra resposta peremptória a essa objecção, e é que os Espíritos se apresentam
espontaneamente, sem constrangimento, muitas vezes mesmo sem que sejam
chamados. Eles também dão testemunho da satisfação que experimentam por
comunicar-se com os homens, e queixam-se às vezes do esquecimento em que os
deixam. Se os Espíritos se perturbassem ou se agastassem com os nossos chamados,
certo o diriam e não retornariam; porém, nessas evocações, livres como são, se manifestam, é porque lhes convém.

11. - Ainda uma outra razão é alegada: - As almas permanecem na morada que a
justiça divina lhes designa - o que equivale dizer no céu ou no inferno. Assim, as que
estão no inferno, de lá não podem sair, posto que para tanto a mais ampla liberdade
seja outorgada aos demónios. As do céu, inteiramente entregues à sua beatitude, estão
muito superiores aos mortais para deles se ocuparem, e são bastantemente felizes
para não voltarem a esta terra de misérias, no interesse de parentes e amigos que aqui
deixassem. Então essas almas podem ser comparadas aos nababos que dos pobres
desviam a vista com receio de perturbar a digestão? Mas se assim fora essas almas se
mostrariam pouco dignas da suprema bem-aventurança, transformando-se em padrão
de egoísmo!
Restam ainda as almas do purgatório, porém, estas, sofredoras como devem
ser, antes que doutra coisa, devem cuidar da sua salvação. Deste modo, não podendo
nem umas nem outras almas corresponder ao nosso apelo, somente o demónio se
apresenta em seu lugar.
Então é o caso de dizer: se as almas não podem vir, não há de que recear pela
perturbação do seu repouso.

12. - Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se as almas bem-aventuradas não
podem deixar a mansão gloriosa para socorrer os mortais, por que invoca a Igreja a
assistência dos santos que devem fruir ainda maior soma de beatitude? Por que
aconselha invocá-los em casos de moléstia, de aflição, de flagelos? Por que razão e
segundo essa mesma Igreja os santos e a própria Virgem aparecem aos homens e
fazem milagres? Estes deixam o céu para baixar à Terra; entretanto os que estão
menos elevados não o podem fazer!

13. - Que os cépticos neguem a manifestação das almas, vá, visto que nelas
não acreditam; mas o que se torna estranhável é ver encarniçar-se contra os meios de provar a sua existência, esforçando-se por demonstrar a impossibilidade desses meios, aqueles mesmos cujas crenças repousam na existência e no futuro das almas! Parece que seria mais natural acolherem como benefício da Providência os meios de confundir os cépticos com provas irrecusáveis, pois que são os negadores da própria religião. Os que têm interesse na existência da alma deploram constantemente a avalancha da
incredulidade que invade, dizimando-o, o rebanho de fiéis: entretanto, quando se lhes
apresenta o meio mais poderoso de combatê-la, recusam-no com tanta ou mais
obstinação que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas avultam de modo a
não deixar dúvidas, eis que procuram como recurso de supremo argumento a
interdição do assunto, buscando, para justificá-la, um artigo da lei moisaica do qual
ninguém cogitara, emprestando-lhe, à força, um sentido e aplicação inexistentes. E tão
felizes se julgam com a descoberta, que não percebem que esse artigo é ainda uma
justificativa da Doutrina Espírita.

14. - Todas as razões alegadas para condenar as relações com os Espíritos não
resistem a um exame sério. Pelo ardor com que se combate nesse sentido é fácil deduzir
o grande interesse ligado ao assunto. Daí a insistência. Em vendo esta cruzada
de todos os cultos contra as manifestações, dir-se-ia que delas se atemorizam.
O verdadeiro motivo poderia bem ser o receio de que os Espíritos muito
esclarecidos viessem instruir os homens sobre pontos que se pretende obscurecer,
dando-lhes conhecimento, ao mesmo tempo, da certeza de um outro mundo, a par das
verdadeiras condições para nele serem felizes ou desgraçados. A razão deve ser a
mesma por que se diz à criança: - "Não vá lá, que há lobisomens." Ao homem dizem: -
"Não chameis os Espíritos: - São o diabo." - Não importa, porém: - impedem os
homens de os evocar, mas não poderão impedi-los de vir aos homens para levantar a
lâmpada de sob o alqueire.
O culto que estiver com a verdade absoluta nada terá que temer da luz, pois a
luz faz brilhar a verdade e o demónio nada pode contra esta.

15. - Repelir as comunicações de além-túmulo é repudiar o meio mais poderoso
de instruir-se, já pela iniciação nos conhecimentos da vida futura, já pelos exemplos
que tais comunicações nos fornecem. A experiência nos ensina, além disso, o bem que
podemos fazer, desviando do mal os Espíritos imperfeitos, ajudando os que sofrem a
desprenderem-se da matéria e a se aperfeiçoarem. Interdizer as comunicações é,
portanto, privar as almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos
dispensar.
As seguintes palavras de um Espírito resumem admiravelmente as
consequências da evocação, quando praticada com fim caritativo:
"Todo Espírito sofredor e desolado vos contará a causa da sua queda, os
desvarios que o perderam. Esperanças, combates e terrores; remorsos, desesperos e
dores, tudo vos dirá, mostrando Deus justamente irritado a punir o culpado com toda a
severidade. Ao ouvi-lo, dois sentimentos vos acometerão: o da compaixão e o do
temor! compaixão por ele, temor por vós mesmos. E se o seguirdes nos seus
queixumes, vereis então que Deus jamais o perde de vista, esperando o pecador
arrependido e estendendo-lhe os braços logo que procure regenerar-se. Do culpado
vereis, enfim, os progressos benéficos para os quais tereis a felicidade e a glória de
contribuir, com a solicitude e o carinho do cirurgião acompanhando a cicatrização da
ferida que pensa diariamente." (Bordéus, 1861.)

referencia: O ceú e o inferno

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