terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mediunidade com Jesus


MEDIUNIDADE COM JESUS


Mediunidade sem Jesus não vale a pena. Não cumpre sua função nem finalidade. Vamos além: Espiritismo sem Jesus não vale a pena. Assim como não valem a pena o centro e a tarefa espíritas sem Jesus. O Espiritismo é sobretudo a revivescência do Evangelho. Sem Jesus, de que vale ter curiosidade e mesmo conhecer? O que nós vamos fazer com o conhecimento que não ilumina? Que não transforma? O que faremos com as informações que não nos levam a cogitar de nossa melhoria e renovação? Conhecimento sem aplicação imediata na vida cotidiana é simples teoria.


O conhecimento pode ser obtido em qualquer parte. É puro intelectualismo. Os Espíritas jamais devem perder o sentido da própria doutrina, daquilo que os trouxe até ela. O Espiritismo é o Consolador prometido. Não nos interessa uma doutrina que cogite apenas de verdades. Somos seres humanos imperfeitos, quase primitivos. Às vezes, nos esquecemos disso e trazemos nossa humanidade e suas limitações para dentro da Casa Espírita, para dentro do Espiritismo. Se não tomarmos cuidado, essas limitações, que se expressam em interesses egoísticos, podem sobrepor-se aos valores que precisamos conquistar, em prejuízo de nossa evolução moral e espiritual.


Sem Jesus, não vale a pena


Sabemos que estamos na Terra para aprender e evoluir moral e intelectualmente. Ao sairmos daqui, deveremos estar sempre em melhores condições do que quando aqui chegamos; intelectuais sim, mas, primordialmente, em melhores condições morais. Então repetimos: Espiritismo sem Jesus não vale a pena. O que é que nós vamos fazer com o conhecimento do perispírito, por exemplo? De que nos vale ser doutores a respeito do corpo espiritual? Às vezes, nos preocupamos muito com coisas como pontos energéticos (chacras) ou aura (“Qual será a cor da minha aura?”). Elas são importantes, mas não essenciais. Nossa transformação moral é mais importante. Para isso, precisamos do Evangelho de Jesus.


Com frequência, queremos saber o que fomos ou deixamos de ser no passado. É melhor não saber. Sinceramente, percamos toda e qualquer esperança de ter sido alguém melhor do que somos. Não fomos. Nós estamos em nossa melhor encarnação. É a nossa melhor oportunidade; que, aliás, se reveste de dupla responsabilidade por conhecermos a Doutrina Espírita. Através dessa doutrina, temos maior consciência de nós mesmos, de nosso passado, de nosso presente e de nosso futuro. Daí a maior responsabilidade pelos nossos actos.


O Espiritismo é uma doutrina muito clara. Ele nos ensina que somos donos de nossos actos e por isso devemos a nós mesmos aquilo que somos. Estamos ligados às pessoas certas, ocupando um corpo que atende às nossas necessidades de aprendizado. Por isso, eu não posso entender a mediunidade sem Jesus. Chico costumava falar que se tivermos de optar entre Kardec e Jesus, deveremos ficar com Jesus. Graças a Deus, não temos de fazer essa opção. Afinal, Kardec também optou por Jesus e a Doutrina Espírita, que ele codificou, é a revivescência do Evangelho.


Estamos na Terra, portanto, para cuidar de nossa renovação, da construção do Reino de Deus dentro de nós. Não adianta ser apenas número na Doutrina Espírita. É muito importante que nos actualizemos sempre, porque fazemos parte de uma doutrina dinâmica, que evolui e se actualiza. Nossa fé precisa ser raciocinada. Por isso, precisamos estudar muito. Precisamos analisar cada acontecimento, cada fato que ocorre no mundo, à luz da Doutrina Espírita.


Mediunidade e médiuns


Essas reflexões tomam importância muito maior quando falamos de mediunidade. Basicamente, mediunidade é pensamento a pensamento. É entrar em sintonia. Não existe nenhuma técnica especial para nos sintonizarmos com a espiritualidade. Certa vez, um jornalista perguntou a Chico Xavier como ocorria o processo de recepção de um Espírito. Chico respondeu: “É o mesmo que você perguntar a uma laranjeira como ela produz laranjas; ela não vai saber responder porque ela só sabe que produz laranjas”. Ora, a laranjeira não sabe como produz laranjas. Se ela for se preocupar muito com o modo como produz e qual é o fenómeno que acontece para que ela produza laranjas, é possível até que ela não produza mais. O que isso tem a ver com mediunidade? Muito, principalmente com o problema do animismo. O médium não deve se preocupar com o fenómeno que ocorre quando ele se comunica com os Espíritos. Basta que acredite nessa comunicação e se entregue com fé à tarefa que assumir.


É lógico que o estudo e o conhecimento da Doutrina são importantes no fenómeno da mediunidade. Eles facilitam bastante o trabalho dos Espíritos. Isso, porém, não é tudo. A fé e o desejo sincero de auxiliar são muito mais importantes. Desenvolver a mediunidade significa desenvolver a sensibilidade. Chico caía em transe naturalmente. Ninguém seria capaz de dizer, se ele não estivesse apoiando a fronte com a mão esquerda, se era o Chico mesmo que escrevia ou se era Emmanuel escrevendo por meio dele. Tal a naturalidade!


O médium tem de se preparar para os Espíritos tanto quanto os Espíritos se preparam para o médium. Por isso, desenvolver a mediunidade implica cuidar da própria espiritualidade. Esse cuidado envolve intelecto, sensibilidade, percepção, maturidade do senso moral e, principalmente, bondade. É interessante pensar sobre isto: Chico Xavier teria sido exímio instrumento mediúnico? O que os Espíritos encontravam nele? Eles encontravam flexibilidade, maleabilidade e, sobretudo, afinidade de propósitos. Todo médium deveria perguntar-se: “O que eu pretendo na condição de médium?”. E deveria ser sincero na resposta. Se a resposta for servir à causa – às tarefas da causa – e não servir a si mesmo, então ele estará no caminho certo.


A Doutrina Espírita é a doutrina do auto conhecimento. Ela conduz seu adepto a um mergulho em seu íntimo e ele aprende a se conhecer melhor naturalmente. A condição mediúnica favorece esse auto conhecimento porque nela o médium lida ao mesmo tempo com a realidade física e a realidade espiritual.


Herculano Pires definia Chico Xavier como um homem inter- existente. Com isso ele queria afirmar que Chico vivia entre os dois mundos. Nós, que convivíamos com Chico Xavier, nunca sabíamos se ele estava falando por ele mesmo ou se era com os Espíritos. Às vezes, a gente perguntava: “Chico, é você ou Emmanuel?”. Ele respondia: “Meu filho, nem eu mesmo sei”. Porque ocorre essa inter-existência? Porque os Espíritos sabem agir com subtileza. Uma prova disso são os casos de obsessão. Há pessoas que entram em determinados processos obsessivos e nem percebem.


Mediunidade e obsessão


Podemos dizer que mediunidade e obsessão são quase “unha e carne”. Actualmente existe muito mais obsessão na mediunidade do que mediunidade na obsessão. O objectivo do Espiritismo é nos ajudar a reverter esse processo e disciplinar o intercâmbio que fazemos naturalmente com o mundo espiritual. Certa vez, no Grupo Espírita da Prece, um rapaz perguntou: “Chico, o que devo fazer para desenvolver mediunidade?”. Atencioso como sempre, Chico respondeu: “Filho, procure frequentar uma casa bem orientada e estudar, ler e trabalhar sempre com muito amor”. Quando o rapaz saiu, Chico comentou: “Por que será que nunca me perguntam como desenvolver bondade?”.


Nós estamos muito distantes dos exemplos de Chico Xavier e mais próximos da mediunidade dele. Mais próximos do médium Chico Xavier do que do homem Chico Xavier. Se o médium era grande, o homem era muito maior. Chico Xavier não mentia nem era incoerente. Transparente, ele vivenciava o Evangelho no Centro Espírita como em toda parte. A serviçal de sua casa, por exemplo, podia arrumar todos os cómodos da casa, fazer o almoço, arrumar a cozinha. O banheiro, porém, era o próprio Chico que lavava. Ele não queria humilhar seu semelhante, impondo-lhe esse serviço.


Finalizando, eu diria que, mais que ser médium, o importante é ser bom. Porque aquele que é bom não é médium dos Espíritos, ele é médium de Deus. Aquele que é bom é médium de Jesus directamente, está em contacto directo com o Divino Mestre. Desenvolver mediunidade, portanto, não é só querer intercâmbio com os Espíritos, porque esta parte de intercâmbio com os desencarnados é fácil; difícil é o intercâmbio com os encarnados. Sem exercitar primeiro o intercâmbio com os encarnados, ninguém consegue ser um bom instrumento para os desencarnados. Porque são os encarnados que nos afiam, como as pedras afiam a lâmina da faca. Há pessoas que dizem: “Eu adoro os Espíritos! Mas não aguento os espíritas!”. É preciso “aguentar” os Espíritas (e os não-Espíritas) se quisermos nos habilitar ao contacto com o plano espiritual superior. Cuidar da mediunidade é cuidar da própria espiritualidade.


*Palestra proferida por Carlos Baccelli e sintetizada por Nelson Salvador Frignani.** O palestrante é orador e escritor espírita.

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