sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Teoria das manifestações físicas



Teoria das Manifestações Físicas


Movimentos de Suspensão - Ruídos - Aumento e Diminuição de Peso dos Corpos


72. Demonstrada a existência dos Espíritos, pelo raciocínio e pelos factos, e a possibilidade de agirem sobre a matéria, devemos agora saber como se efectua essa operação e como eles agem para mover as mesas e outros corpos inertes.
O pensamento que naturalmente nos ocorre é aquele que tivemos. Como os Espíritos o contestaram e nos deram uma explicação inteiramente diversa, que não podíamos esperar, é evidente que sua teoria não provinha de nós. Ora, a ideia que tivemos, todos a podiam ter, como nós. Quanto à teoria dos Espíritos, não acreditamos que pudesse jamais ocorrer a alguém. Facilmente se reconhecerá quanto é superior à nossa, embora mais simples, porque oferece a solução de numerosos outros factos que não tinham uma explicação satisfatória.


73. O conhecimento da natureza dos Espíritos, de sua forma humana, das propriedades semi-materiais do perispírito, da acção mecânica que podem exercer sobre a matéria, e o facto de nas aparições as mãos fluídicas e até mesmo tangíveis pegarem objectos e os carregarem, naturalmente nos faziam crer que o Espírito se servisse das mãos para girar a mesa e que a erguesse pelos braços. Mas, nesse caso, qual a necessidade de médiuns? O Espírito não poderia agir sozinho? Porque o médium que frequentemente pousa as mãos na mesa em sentido contrário ao do movimento, ou mesmo nem chega a pousá-las, não pode evidentemente ajudar o Espírito por acção muscular. Ouçamos primeiro os Espíritos que interrogamos a respeito.


74. As respostas seguintes nos foram dadas pelo Espírito São Luís e depois confirmadas por muitos outros:
1. O fluido universal é uma emanação da Divindade?
— Não.


2. É uma criação da Divindade?
— Tudo foi criado, excepto Deus.


3. O fluido universal é o próprio elemento universal?
— Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.


4. Tem alguma relação com o fluido eléctrico, cujos efeitos conhecemos?
— É o seu elemento.


5. Como o fluido universal se nos apresenta na sua maior simplicidade?
— Para encontrá-lo na simplicidade absoluta seria preciso remontar aos Espíritos puros. No vosso mundo ele está sempre mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que vos rodeia. Podeis dizer, entretanto, que ele mais se aproxima dessa simplicidade no fluido que chamais fluido magnético animal.(1)


6. Afirmou-se que o fluido universal é a fonte da vida: seria ao mesmo tempo a fonte da inteligência?
— Não; esse fluido só anima a matéria.


7. Sendo esse fluido que forma o perispírito, parece encontrar-se nele numa espécie de condensação que de certa maneira o aproxima da matéria propriamente dita?
— De certa maneira, dizeis bem, porque ele não possui todas as propriedades da matéria e a sua condensação é maior ou menor, segundo a natureza dos mundos.


8. Como um Espírito pode mover um corpo sólido?
— Combinando uma porção de fluido universal com o fluido que se desprende do médium apropriado a esses efeitos.


9. Os Espíritos erguem a mesa com a ajuda dos braços, de alguma maneira solidificados?
— Esta resposta não te dará ainda o que desejas. Quando uma mesa se move é porque o Espírito evocado tirou do fluido universal o que anima essa mesa de uma vida factícia. Assim preparada, o Espírito a atrai e a movimenta, sob a influência do seu próprio fluido, emitido pela sua vontade. Quando a massa que deseja mover é muito pesada para ele, pede a ajuda de outros Espíritos da sua mesma condição. Por sua natureza etérea, o Espírito propriamente dito não pode agir sobre a matéria grosseira sem intermediário, ou seja, sem o liame que o liga à matéria. Esse liame, que chamas perispírito, oferece a chave de todos os fenómenos espíritas materiais. Creio me haver explicado com bastante clareza para fazer-me compreender.


Observação - Chamamos a atenção para a primeira frase: "Esta resposta não te dará ainda o que desejas". O Espírito compreendera perfeitamente que todas as questões anteriores só tinham por fim chegar a essa. E se refere ao nosso pensamento, que esperava, com efeito, outra resposta, que confirmasse a nossa ideia sobre a maneira porque o Espírito movimenta as mesas.


(1) As teorias científicas actuais, no campo da Fisiologia e da Psicologia, tentam negar a existência do fluido magnético. A palavra fluido tornou-se uma heresia científica. Mas o Espiritismo a conserva e já agora estamos vendo a sua volta ao campo científico sob outras formas, como na teoria física de campo, na dos electrões livres e assim por diante. (N. do T.)


10. Os Espíritos que ele chama para ajudá-lo são inferiores a ele? Estão sob as suas ordens?
— Quase sempre são seus iguais e acodem espontaneamente.


11. Todos os Espíritos podem produzir esses fenómenos?
— Os Espíritos que produzem esses efeitos são sempre inferiores, ainda não suficientemente livres das influências materiais.


12. Compreendemos que os Espíritos superiores não se ocupem dessas coisas, mas perguntamos se sendo mais desmaterializados, teriam o poder de fazê-lo, se o quisessem?
— Eles possuem a força moral, como os outros possuem a força física. Quando necessitam desta última, servem-se dos que a possuem. Já não dissemos que eles se servem dos Espíritos inferiores como vós dos carregadores?


Observação - A densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com a natureza dos mundos, como já foi ensinado. (O Livro dos Espíritos, nº 94 e 187). Parece variar também no mesmo mundo, segundo os indivíduos. Nos Espíritos moralmente adiantados ele é mais subtil e se aproxima do perispírito das entidades elevadas; nos Espíritos inferiores aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade. Essa densidade maior do perispírito, estabelecendo maior afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos para as manifestações físicas. É por essa razão que um homem refinado, habituado aos trabalhos intelectuais, de corpo frágil e delicado, não pode erguer pesados fardos como um carregador. A matéria de seu corpo é de alguma maneira menos compacta, os órgãos são menos resistentes, o fluido nervoso menos intenso. O perispírito é para o Espírito o que o corpo é para o homem. Sua densidade está na razão da inferioridade do Espírito. Essa densidade, portanto, substitui nele a força muscular, dando-lhe maior poder sobre os fluidos necessários às manifestações dos que o possuem os de natureza mais etérea. Se um Espírito elevado quer produzir esses efeitos, faz o que fazem entre nós os homens refinados: incumbe disso um Espírito carregador.(2)


13. Se bem compreendemos o que disseste, o princípio vital provém do fluido universal. O Espírito tira desse fluido o envoltório semi-material do seu perispírito, e é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte. É isso?
— Sim, quer dizer que ele anima a matéria de uma vida factícia, artificial: a matéria se impregna de vida animal. A mesa que se move sob as vossas mãos vive como animal e obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é o Espírito que a empurra com se fosse um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito que a ergue com os braços: é a mesa animada que obedece à impulsão dada pelo Espírito.


14. Qual o papel do médium nesse fenómeno?
— Eu já disse que o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal do Espírito. É necessária a união de ambos, do fluido animalizado e do fluido universal, para dar vida à mesa. Mas não se deve esquecer que essa vida é apenas momentânea, extinguindo-se com a mesma acção, e muitas vezes antes que a acção termine, quando a quantidade de fluido já não é mais suficiente para animar a mesa.(3)


15. O Espírito pode agir sem o concurso do médium?
— Pode agir à revelia do médium. Isso quer dizer que muitas pessoas ajudam os Espíritos na realização de certos fenómenos, sem o saberem. O Espírito tira dessas pessoas, como de uma fonte, o fluido animal de que necessita. É dessa maneira que o concurso de um médium, como o entendes, nem sempre é necessário, o que acontece sobretudo nos fenómenos espontâneos.


16. A mesa animada age com inteligência? Pensa?
— É como o bastão com que fazes um sinal inteligente a alguém. Não pensa, mas a vitalidade de que está animado lhe permite obedecer ao impulso de uma inteligência. É bom saber que a mesa em movimento não se torna Espírito e não tem pensamento nem vontade.(4)


Observação - Servimo-nos frequentemente de uma expressão semelhante na linguagem usual: de uma roda que gira com velocidade dizemos que está animada de um movimento rápido.


17. Qual a causa preponderante na produção deste fenómeno: o Espírito ou o fluido?
— O Espírito é a causa e o fluido é o seu instrumento; ambos são necessários.


(2) Esta referência de Kardec à densidade do perispírito dos encarnados em nosso mundo mostra o sentido progressivo da Codificação. O problema do perispírito em O Livro dos Espíritos limitou-se mais à evolução nos diferentes mundos, embora se possa deduzir de várias passagens o aspecto aqui acentuado. E o que podemos ver no próprio comentário de Kardec à pergunta 182 do L.E., ou no comentário final à pergunta 196, acentuando que o perispírito se purifica à medida que o Espírito se aperfeiçoa. Aqui, porém, Kardec trata especificamente do assunto e se refere também à evolução do corpo material. (N. do T.)


(3) Isto explica as interrupções inesperadas de comunicações. A falta de fluido faz a mesa cessar de mover-se, como se o Espírito comunicante se houvesse ausentado. (N. do T.)


(4) O bastão, como apêndice da mão, é animado ficticiamente por esta. Lançado ao chão, não tem vida, não dá mais qualquer sinal inteligente. No mundo espiritual os objectos são de outra natureza. A mão pode pegar um bastão e movimentá-lo, mas o pensamento não pode fazer assim. Misturando o fluido animal do médium com o fluido universal do Espírito, temos um pouco da natureza humana e um pouco da espiritual, formando um elemento intermediário. Impregnada a mesa com esse elemento, o fluido material se liga à madeira e o fluido espiritual fica ligado ao pensamento do Espírito. Essa, ao que parece, a mecânica da levitação e essa a natureza do ectoplasma. Os parapsicólogos Wathely Carington e G. S. Soal, em sessão realizada na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, obtiveram o fenómeno de voz direta, com levitação do megafone. A comunicação foi interrompida em meio, sem que eles pudessem explicar o motivo. Como vemos nestas explicações, deve ter sido a falta de fluido ectoplásmico.(N.doT.)

18. Qual o papel da vontade do médium?
— Chamar os Espíritos e ajudá-los a impulsionar os fluidos.


18a. É indispensável a vontade do médium?
— Ela aumenta a potência, mas nem sempre é necessária, desde que pode haver o movimento, malgrado ou contra a vontade do médium, o que é uma prova da existência de uma causa independente.


Observação - Nem sempre é necessário o contacto das mãos para mover um objecto. Ele basta, quase sempre, para dar o primeiro impulso. Iniciado o movimento, o objecto pode obedecer à vontade sem contacto material. Isso depende da potência mediúnica ou da natureza dos Espíritos. Aliás, o primeiro contacto nem sempre é necessário: temos a prova disso nos movimentos e deslocamentos espontâneos, que ninguém pensou em provocar.


19. Por que motivo não podem todos produzir o mesmo efeito e todos os médiuns não têm a mesma potência?
— Isso depende do organismo e da maior ou menor facilidade na combinação dos fluidos, e ainda da maior ou menor simpatia do médium com os Espíritos que nele encontram a potência fluídico necessária. Esta potência, como a dos magnetizadores, é maior ou menor. Encontramos, nesse caso, pessoas inteiramente refractárias, outras em que a combinação só se verifica pelo esforço da sua própria vontade, e outras, enfim, em que ela se dá tão natural e facilmente que nem a percebem, servindo de instrumentos sem o saberem, como já dissemos. (Ver a seguir, o Cap. sobre as Manifestações Físicas Espontâneas.)


Observação - O magnetismo é, não há dúvida, o princípio desses fenómenos, mas não como geralmente se pensa. Temos a prova disso na existência de poderosos magnetizadores que não movimentam uma mesinha de centro, e de pessoas que não sabem magnetizar, até mesmo crianças, que bastam pousar os dedos numa mesa pesada para que ela se agite. Logo, se a potência mediúnica não depende da magnética, é que tem outra causa.(5)


20. As pessoas ditas eléctricas podem ser consideradas médiuns?
— Essas pessoas tiram de si mesmas o fluido necessário à produção dos fenómenos e podem agir sem auxílio dos Espíritos. Não são propriamente médiuns, no sentido exacto da palavra. Mas pode ser também que um Espírito as assista e aproveite as suas disposições naturais.(6)


21. Ao mover os corpos sólidos, os Espíritos penetram na substância dos mesmos ou permanecem fora dela?
— Fazem uma coisa e outra. Já dissemos que a matéria não é obstáculo para os Espíritos, que tudo penetram. Uma porção do seu perispírito se identifica, por assim dizer, com o objecto em que penetra.(7)


22. Como o Espírito bate? Com um objecto material?
— Não, como não usa os braços para erguer a mesa. Sabes que ele não dispõe de martelos. Seu martelo é o fluido combinado que ele põe em acção, pela sua vontade, para mover ou bater. Quando move, a luz vos transmite a visão do movimento; quando bate, o ar vos transmite o som.
23. Concebemos isso quando se trata de um corpo duro. Mas, como pode nos fazer ouvir ruídos ou sons através do ar?
— Desde que age sobre a matéria, pode agir tanto sobre o ar como sobre a mesa. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los como a todos os demais ruídos.


(5) Ver o nº 131, Cap. VIII da II Parte, e o subtítulo Médiuns Curadores, do Cap. XIV, sobre Os Médiuns. (N. do T.)


(6) Ainda hoje se tenta negar a mediunidade alegando a existência dessas pessoas. Como se vê, o Espiritismo distingue perfeitamente a acção pessoal ou anímica dessas criaturas da acção impessoal dos médiuns. A sra. Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, era uma dessas pessoas e quis negar a acção mediúnica nos fenómenos físicos, em virtude da sua capacidade de produzi-los. O animismo, como demonstrou Ernesto Bozzano (ver Animismo ou Espiritismo) e como hoje admite o parapsicólogo Rhine (ver O Novo Mundo da Mente) prova a existência do Espírito no homem ou de um elemento não físico, que supera as condições orgânicas. (N. do T .)
Observação - Essas pessoas seriam como os sonâmbulos, que podem agir com ou sem o auxílio dos Espíritos. (Ver no Cap. XIV, Os Médiuns, a parte relativa aos sonâmbulos.)


(7) Da mesma maneira que nossa mão penetra num tubo para erguê-lo ou pega numa vara para sacudi-la. Não esquecer que o perispírito é o corpo espiritual. O Espírito faz aí uma comparação para dar-nos a explicação possível. (N. do T.)


Observação - Compreende-se, assim, que os Espíritos podem fazer tudo quanto fazemos, mas pelos meios correspondentes ao seu organismo. Algumas forças que lhes são próprias substituem os nossos músculos, da mesma maneira que a mímica substitui, nos mudos, a palavra que lhes falta.


24. Dizes que o Espírito não usa as mãos para mover a mesa, mas em certas manifestações apareceram mãos a dedilhar teclados, movimentando as teclas e produzindo sons. Não pareceria, nesse caso, que as teclas eram movimentadas pelos dedos? E a pressão dos dedos não é também directa e real, quando a sentimos em nós mesmos, quando essas mãos deixam marcas na pele?
— Não poderias compreender a natureza dos Espíritos e sua maneira de agir por meio dessas comparações, que dão apenas uma ideia incompleta. É um erro querer sempre assemelhar às vossas, as maneiras deles procederem. Os processos dos Espíritos devem estar sempre em relação com a sua organização. Já não dissemos que o fluido do perispírito penetra na matéria e se identifica com ela, dando-lhe uma vida factícia? Pois bem, quando o Espírito movimenta as teclas com os dedos ele o faz realmente. Mas não é pela força muscular que faz a pressão. Ele anima a tecla, como faz com a mesa, e a tecla obedece à sua vontade e vibra a corda. Neste caso também ocorre um facto de difícil compreensão para vós. É que certos Espíritos são ainda tão atrasados e de tal forma materiais, em comparação com os Espíritos elevados, que conservam as ilusões da vida terrena e julgam agir como quando estavam no corpo. Não percebem a verdadeira causa dos efeitos que produzem, como um pobre homem não compreende a teoria dos sons que pronuncia. Se perguntares como tocam o piano, dirão que com os dedos, pois assim crêem fazer. Produzem o efeito de maneira instintiva, sem o saberem, e não obstante pela sua vontade. Quando falam e se fazem ouvir, é a mesma coisa.


25. Entre os fenómenos citados como provas da acção de uma potência oculta, há os que são evidentemente contrários a todas as leis conhecidas da Natureza. A dúvida, então, não parece justa?
— Acontece que o homem está longe de conhecer todas as leis da Natureza; se as conhecesse, seria Espírito superior. Cada dia, entretanto, oferece um desmentido aos que tudo pensam saber, pretendendo impor limites à Natureza, e nem por isso eles se mostram menos orgulhosos. Desvendando incessantemente novos mistérios, Deus adverte ao homem que deve desconfiar das suas próprias luzes, pois chegará um dia em que a ciência do mais sábio será confundida. Não vê todos os dias o exemplo de corpos dotados de movimento capazes de superar a força de gravitação? A bala de um canhão não supera momentaneamente essa força? "Pobres homens que vos considerais tão sábios, cuja tola vaidade é a todo instante confundida, sabei que sois ainda muito pequeninos!"


75. Essas explicações são claras, categóricas, sem ambiguidades. Delas ressalta o ponto capital de que o fluido universal, que encerra o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, e que esse agente recebe seu impulso do Espírito, quer seja encarnado ou errante. O fluido condensado constitui o perispírito ou invólucro semi-material do Espírito.(8) Na encarnação, o perispírito está ligado à matéria do corpo; na erraticidade está livre. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito está mais ou menos fundida com a matéria corpórea, mais ou menos colada a ela, se assim podemos dizer.(9) Em algumas pessoas há uma espécie de emanação desse fluido, em consequência de condições especiais de sua organização, e é disso, propriamente falando, que resultam os médiuns de efeitos físicos. A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante e sua combinação mais ou menos fácil, e daí os médiuns mais ou menos possantes. Mas essa emissão não é permanente, o que explica a intermitência da força.(10)


76. Façamos uma comparação. Quando queremos atingir alguma coisa situada à distância de nós, é pelo pensamento que o tentamos, mas o pensamento sozinho não poderia realizar o nosso intento. Precisamos de um instrumento que o pensamento dirigirá: um bastão, um projéctil, um assopro, etc. Note-se ainda que o pensamento não age directamente sobre o bastão, que precisamos pegar. A inteligência, que é o próprio Espírito encarnado em nosso corpo, está unida ao corpo pelo perispírito e não pode agir sobre o corpo sem perispírito, da mesma maneira que não pode agir sobre o bastão sem o corpo. Assim: ela age sobre o perispírito, que é a substância com que tem mais afinidade, o perispírito age sobre os músculos, estes fazem a mão pegar o bastão e o bastão atinge o alvo. Quando o Espírito não está encarnado necessita de um instrumento que não pertence ao seu organismo: esse instrumento é o fluido, com o auxílio do qual torna o objecto apropriado a realizar o impulso da sua vontade.


(8) A teoria da condensação do fluido foi posta em ridículo por muitas pessoas, e ainda hoje o é. Mas convém assinalar que essa teoria é precisamente a da física atómica de hoje, para explicar a formação da matéria, que se dá pela condensação da energia. (N. do T.)


(9) Preferimos as palavras fundida e colada, em substituição às palavras ligada e aderente, usadas literalmente em várias traduções, porque aquelas nos parecem corresponder melhor, em nossa língua, ao sentido real do texto.


77. Quando, pois, um objecto é movido, erguido ou atirado no ar, o Espírito não o pegou, não o ergueu nem o atirou como nós o fazemos com as mãos. Ele o saturou, por assim dizer, como o seu fluido, combinado com o do médium. O objecto, assim momentaneamente vivificado, age como um ser vivo, com a diferença de não ter vontade própria e obedecer ao impulso da vontade do Espírito.
Assim, o fluido vital, dirigido pelo Espírito, dá uma vida artificial e momentânea aos corpos inertes. Sendo o perispírito formado por esse fluido, segue-se que o Espírito encarnado, por meio do seu perispírito, é quem dá vida ao corpo, mantendo-se unido a ele enquanto o organismo o permite. Quando ele se retira, o corpo morre. Então, se em lugar de uma mesa fizéssemos uma estátua de madeira, teríamos, sob a acção mediúnica, uma estátua que se moveria e daria pancadas, respondendo às nossas perguntas. Numa palavra: teríamos uma estátua animada por uma vida artificial. E como se diz mesas falantes, também se poderia dizer estátuas falantes. Quanta luz lança esta teoria sobre uma infinidade de fenómenos até agora inexplicáveis! Quantas alegorias e efeitos misteriosos vem explicar!(11)


78. Os incrédulos objectam, apesar de tudo, que o levantamento das mesas sem apoio é impossível, por contrariar a lei da gravitação. Responderemos, primeiro, que a negação não é uma prova; depois, que existindo o facto, estranhamente contrário a todas as leis conhecidas, isso apenas provaria que ele se apoia em alguma lei desconhecida, pois os negadores não podem ter a pretensão de conhecer todas as leis da Natureza. Explicamos essa lei, mas isso não basta para que eles a aceitem, pois a explicação é dada por Espíritos que deixaram as vestes terrenas, em lugar daqueles que ainda as têm e envergam o fardão da Academia. Dessa maneira, se o Espírito de Arago, em vida, lhes tivesse dado essa lei, eles a aceitariam de olhos fechados, mas dada pelo mesmo Espírito, depois da morte, é apenas uma utopia. E isso por quê? Porque a morte de Arago é para eles absoluta. Não temos a pretensão de dissuadi-los disso, mas como esta objecção poderia embaraçar algumas pessoas, tentaremos respondê-las do seu mesmo ponto de vista, ou seja, fazendo abstracção, por um instante, da teoria da animação factícia.


79. Quando se faz o vácuo na campânula da máquina pneumática é impossível erguê-la, tal a força de adesão que lhe dá a pressão do ar sobre ela. Deixando-se entrar o ar, a campânula se eleva com a maior facilidade, porque o ar debaixo contrabalança o de cima. Entretanto, abandonada a si mesma, permanecerá no prato em virtude da lei da gravitação. Comprima-se, porém, o ar interior, dando-lhe uma densidade maior que o de cima, e a campânula se levantará apesar da gravitação. Se a corrente de ar for rápida e violenta, ela poderá manter-se no espaço sem nenhum apoio visível, como os bonecos que giram sobre os jactos de um repuxo. Por que, pois, o fluido universal, que é o elemento básico de toda a matéria, acumulando-se em torno da mesa, não teria a propriedade de aumentar ou diminuir o seu peso específico relativo, como faz o ar com a campânula, o hidrogénio com os balões, sem que fique derrogada a lei da gravitação? Conheceis todas as propriedades e toda a força desse fluido? Não. E então? Como negar um facto que não podeis explicar?


80. Voltemos à teoria do movimento da mesa. Se um Espírito pode erguer uma mesa pelo meio indicado, pode erguer qualquer outra coisa: uma poltrona, por exemplo. E se pode erguer esta poderá também erguê-la com uma pessoa sentada, havendo força suficiente. Eis, pois, a explicação desse fenómeno, cem vezes produzido pelo sr. Home, consigo mesmo e com outras pessoas. Ele o repetiu durante uma viagem recente a Londres e, para provar que os assistentes não eram vítimas de uma ilusão de ótica, fez no teto um sinal a lápis e deixou que passassem por baixo dele. Sabe-se que o sr. Home é um potente médium de efeitos físicos. Nesse caso, ele era a causa eficiente e o objecto.(12)


81. Tratamos há pouco do possível aumento de peso. É um fenómeno que às vezes se produz e não tem nada de mais anormal do que a prodigiosa resistência da campânula sob a pressão da coluna atmosférica. Sob a influência de certos médiuns, objectos muito leves têm oferecido a mesma resistência, cedendo de repente ao menor esforço. Na experiência da campânula, ela realmente não pesa mais nem menos que o seu peso normal, mas parece mais pesada por efeito da causa exterior que a pressiona. O mesmo provavelmente, acontece com a mesa. Ela tem sempre o seu peso natural, pois a sua massa não foi aumentada, mas uma força exterior se opõe ao seu movimento, e essa causa pode estar nos fluidos ambientes que a penetram, como a da campânula está na pressão atmosférica. Faça-se a experiência da campânula diante de um homem ignorante: não compreendendo que o agente é o ar, que ele não vê, será fácil persuadi-lo que se trata do Diabo.


Talvez se diga que o fluido, sendo imponderável, sua acumulação não poderá aumentar o peso de um objecto. De acordo. Mas é preciso notar que só nos servimos da palavra acumulação com finalidade comparativa e não para identificação do fluido com o ar. Ele é imponderável, seja; mas a verdade é que nada o prova, sua natureza íntima nos é desconhecida e estamos longe de conhecer todas as suas propriedades. Antes de conhecer o peso do ar, ninguém podia suspeitar dos efeitos desse peso. A electricidade é também classificada entre os fluidos imponderáveis. No entanto, um corpo pode ser fixado por uma corrente eléctrica e resistir fortemente a quem pretender erguê-lo. Aparentemente, portanto, torna-se mais pesado. Do facto de não se ver o suporte, seria ilógico concluir que ele não existe. O Espírito pode, pois, ter alavancas que desconhecemos. A Natureza nos prova diariamente que o seu poder não se limita ao testemunho dos nossos sentidos.
Não se pode explicar senão por uma causa semelhante o estranho fenómeno, de que há tantos exemplos, de um jovem débil e delicado erguer com dois dedos, sem esforço e como uma pena, um homem forte e robusto com a cadeira em que se assenta. E as intermitências da faculdade provam que a sua causa é estranha à pessoa que a possui.(13)


(10) Esta teoria da emanação e da emissão do fluido animalizado ou fluido perispirítico do médium, e de sua combinação mais ou menos fácil com o fluido universal do Espírito, para a produção dos fenómenos de efeitos físicos e consequentemente de materializações, exige atenção do leitor, para bem compreender o desenvolvimento dos fenómenos. A última frase é de grande importância para explicar as intermitências das funções mediúnicas, cuja causa é muitas vezes orgânica e se costuma atribuir a motivos morais. (N. do T.)


(11) As estátuas falantes de Kardec não são uma hipótese fantástica, bastando lembrar-se as materializações em miniatura, os megafones das experiências de voz directa, as ideoplastias falantes das experiências de moda, na Itália, além do fenómeno clássico das mesas. O sr. A. P. Sinnet, teósofo de renome, relata em seu livro Incidentes da Vida da Sra. Blavatsky o facto curioso de um lustre, de cristal, em forma de aranha, do Palácio do Metropolita de Moscovo, que se desprendeu do teto e andou no ar, como se fosse vivo, numa visita de Blavatsky ao prelado. (N. do T.)


(12) Daniel Dunglas Home, famoso médium inglês que realizava especialmente fenómenos de levitação e foi estudado pelo físico sir William Crookes. A causa eficiente é uma das causas da classificação de Aristóteles e corresponde à que se relaciona directamente com o efeito, produzindo-o. No caso, Home era a causa eficiente, porque produzia o fenómeno, e era o objecto porque estava levitado. (N. do T.)


(13) A faculdade mediúnica está sujeita a intermitências e variações que mostram a sua independência da vontade pessoal do médium. Essa independência poderia ser determinada por condições orgânicas ou psíquicas, como Kardec já acentuou, mas acusam também, em muitas ocasiões, a participação ou não de inteligências estranhas ao médium, sem as quais ele não consegue a produção dos fenómenos de maneira satisfatória. É o que se verá na sequência deste livro. (N. do T.)


Referência :O livro dos médiuns

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