segunda-feira, 16 de julho de 2007

O maravilhoso e o sobrenatural



O Maravilhoso e o Sobrenatural


7. Se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações fosse uma concepção isolada, o produto de um sistema, poderia com certa razão ser suspeita de ilusória. Mas quem nos diria então porque ela se encontra tão viva entre todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todas as religiões conhecidas? Isso, dizem alguns críticos, é porque o homem, em todos os tempos, teve amor ao maravilhoso. — Mas que é o maravilhoso, segundo vós? — Aquilo que é sobrenatural. — E que entendeis por sobrenatural?


— O que é contrário às leis da Natureza. — Então conheceis tão bem essas leis que podeis marcar limites ao poder de Deus? Muito bem! Provai então que a existência dos Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que elas não são e não podem ser uma dessas leis. Observai a Doutrina Espírita e vereis se no seu encadeamento elas não apresentam todas as características de uma lei admirável, que resolve tudo o que os princípios filosóficos até agora não puderam resolver.


O pensamento é um atributo do Espírito. A possibilidade de agir sobre a matéria, de impressionar os nossos sentidos e portanto de transmitir-nos o seu pensamento, é uma consequência, podemos dizer, da sua própria constituição fisiológica. Não há, pois, nesse facto, nada de sobrenatural, nada de maravilhoso.(1) Mas que um homem morto e bem morto possa ressuscitar corporalmente, que os seus membros dispersos se reúnam para restabelecer-lhe o corpo, eis o que é maravilhoso, sobrenatural, fantástico. Isso, sim, seria uma verdadeira derrogação, que Deus só poderia fazer através de um milagre. Mas não há nada de semelhante na Doutrina Espírita.


8. Não obstante, dirão, admitis que um Espírito pode elevar uma mesa e sustentá-la no espaço sem um ponto de apoio. Isso não é uma derrogação da lei da gravidade? — Sim, da lei conhecida; mas a Natureza já vos disse a última palavra? Antes das experiências com a força ascensional de certos gases quem diria que uma pesada máquina, carregando muitos homens, poderia vencer a força de atracção? Aos olhos do vulgo, isso não deveria parecer maravilhoso, diabólico? Aquele que se propusesse a transmitir, há um século, uma mensagem a quinhentas léguas de distância e obter a resposta em alguns minutos passaria por louco. Se o fizesse, acreditariam que tinha o Diabo às suas ordens, pois então só o Diabo era capaz de andar tão ligeiro. Por que, pois, um fluido desconhecido não poderia, em dadas circunstâncias, contrabalançar o efeito da gravidade, como o hidrogénio contrabalança o peso do balão? Isto, notemos de passagem, é apenas uma comparação, feita unicamente para mostrar, por analogia, que o facto não é fisicamente impossível. Não se trata de identificar uma coisa à outra. Ora, foi precisamente quando os sábios, ao observarem estas espécies de fenómenos, quiseram proceder por identificação, que acabaram se enganando a respeito. De resto, o facto existe e todas as negações não poderiam destruí-lo, porque negar não é provar. Para nós, não há nada de sobrenatural e é tudo quanto podemos dizer por agora.


9. Se o facto está provado, dirão, nós o aceitamos. E aceitamos até mesmo a causa que lhe atribuis, ou seja, a de um fluido desconhecido. Mas quem prova a intervenção dos Espíritos? É nisso que está o maravilhoso, o sobrenatural.
Seria necessário, neste caso, toda uma demonstração que não seria cabível e constituiria, aliás, uma redundância, porque ela ressalta de todo o ensino. Entretanto, para resumi-la em duas palavras, diremos que teoricamente ela se funda neste princípio: todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Praticamente: sobre a observação de que os fenómenos ditos espíritas, tendo dado provas de inteligência, não podem ter sua causa na matéria; que essa inteligência, não sendo a dos assistentes, _ o que resultou das experiências _ devia ser independente deles; e desde que não se via o ser que os produzia, devia tratar-se de um ser invisível, ao qual se deu o nome de Espírito, não é mais do que a alma dos que viveram corporalmente e aos quais a morte despojou de seu grosseiro envoltório visível, deixando-lhes apenas um envoltório etéreo, invisível no seu estado normal. Eis, pois, o maravilhoso e o sobrenatural reduzidos à mais simples expressão. Constatada a existência dos seres invisíveis, sua acção sobre a matéria resulta da natureza do seu envoltório fluídico. Esta acção é inteligente, porque, ao morrer, eles perderam apenas o corpo, conservando a inteligência que constitui a sua existência. Esta a chave de todos esses fenómenos considerados erroneamente sobrenaturais. A existência dos Espíritos não decorre, pois, de um sistema preconcebido, de uma hipótese imaginada para explicar os factos, mas é o resultado de observações e a consequência natural da existência da alma. Negar essa causa é negar a alma e os seus atributos.


(2) Os que pensarem que podem encontrar para esses efeitos inteligentes uma solução mais racional, podendo sobretudo explicar a razão de todos os factos, queiram fazê-lo, e então poder-se-á discutir o mérito de ambas.(3)


10. Aos olhos daqueles que vêem na matéria a única potência da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis materiais é maravilhoso ou sobrenatural e, para eles, maravilhoso é sinonimo de superstição. Dessa maneira a religião, que se funda na existência de um princípio imaterial, é um tecido de superstições. Eles não ousam dizê-lo em voz alta, mas o dizem baixinho. E pensam salvar as aparências ao conceber que é necessária uma religião para o povo e para tornar as crianças acomodadas. Ora, de duas, uma: ou o princípio religioso é verdadeiro ou é falso. Se é verdadeiro, o é para todos; se é falso não é melhor para os ignorantes do que para os esclarecidos.


11. Os que atacam o Espiritismo em nome do maravilhoso se apoiam, portanto, em geral, no princípio materialista, desde que negando todo efeito de origem extra-material, negam consequentemente a existência da alma. Sondai o futuro de seu pensamento, perscrutai o sentido de suas palavras e encontrareis quase sempre esse princípio que, se não se mostra categoricamente formulado, transparece sob a capa de uma pretensa filosofia moral com que eles se disfarçam. Rejeitando como maravilhoso tudo quanto decorre da existência da alma, eles são, portanto, consequentes consigo mesmos. Não admitindo a causa, não podem admitir o efeito. Daí o preconceito que os impede de julgar com isenção o Espiritismo, pois partem da negação de tudo o que não seja material. Quanto a nós, pelo facto de admitirmos os efeitos decorrentes da existência da alma, teríamos de aceitar todos os factos qualificados de maravilhosos, teríamos de ser os campeões dos visionários, os adeptos de todas as utopias, de todos os sistemas excêntricos? Seria necessário conhecer bem pouco do Espiritismo para assim pensar. Mas os nossos adversários não se importam com isso; a necessidade de conhecer aquilo de que falam é o que menos Lhes interessa.


Segundo eles, o maravilhoso é absurdo; ora, o Espiritismo se apoia em factos maravilhosos; logo, o Espiritismo é absurdo: isto é para eles um julgamento inapelável. Crêem apresentar um argumento sem resposta quando, após eruditas pesquisas sobre os convulsionários de Saint-Médard, os camisards das Cévennes ou as religiosas de Loudun, chegam à descoberta de evidentes trapaças que ninguém contesta. Mas essas histórias são, por acaso, o evangelho do Espiritismo? Seus partidários teriam negado que o charlatanismo explorou alguns factos em proveito próprio? Que a imaginação os tenha engendrado? Que o fanatismo tenha exagerado a muitos deles? O Espiritismo não é mais responsável pelas extravagâncias que se possam cometer em seu nome, do que a verdadeira Ciência pelos abusos da ignorância ou a verdadeira Religião pelos excessos do fanatismo. Muitos críticos só julgam o Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares que são apenas as formas da sua ficção. O mesmo seria julgar a História pelos romances históricos ou pelas tragédias.


(1) A Parapsicologia confirma hoje, cientificamente, através de pesquisas de laboratório, a naturalidade desses fenómenos. (N. do T.)


(2) Hoje, os parapsicólogos chegam a essa mesma conclusão: o prof. Rhine afirma que o pensamento é extra físico e age sobre a matéria; os profs. Carington, Soal, Price e outros admitem a acção de mentes desencarnadas na produção dos fenómenos psikapa (efeitos físicos). (N. do T.)


(3) O prof. Ernesto Bozzano chama a isto "convergência das provas", mostrando a necessidade científica de uma hipótese explicar todos os fenómenos da mesma natureza e não apenas alguns deles. (N. do T.)

12. Na lógica mais elementar, para discutir uma coisa é necessário conhecê-la porque a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com conhecimento de causa. Somente assim, a sua opinião, embora errónea, pode ser levada em consideração. Mas que peso ela pode ter, quando emitida sobre matéria que ele desconhece? A verdadeira crítica deve dar provas, não somente de erudição, mas de conhecimento profundo do objecto tratado, de isenção no julgamento e de absoluta imparcialidade. A não ser assim, qualquer violeiro poderia se arrogar o direito de julgar Rossini e qualquer pintor de paredes de censurar Rafael.


13. O Espiritismo não aceita todos os factos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição. É verdade que entre os factos por ele admitidos há coisas que, para os incrédulos, são inegavelmente do maravilhoso, o que vale dizer da superstição. Que seja. Mas, pelo menos, que limitem a eles a discussão, pois em relação aos outros nada têm que dizer e pregarão no deserto. Criticando o que o próprio Espiritismo refuta, demonstram ignorar o assunto e argumentam em vão. Mas até onde vai a crença do Espiritismo, perguntarão. Lede e observai, que o sabereis. A aquisição de qualquer ciência exige tempo e estudo. Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da Filosofia, em todos os sectores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é em si mesmo toda uma Ciência, toda uma Filosofia, que não podem ser adquiridas em apenas algumas horas. Há tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo numa mesa girante, como em ver toda a Física em algumas experiências infantis. Para quem não quiser ficar na superfície, não são horas, mas meses e anos que terá de gastar para sondar todos os seus arcanos. Que se julgue, diante disso, o grau de conhecimento e o valor da opinião dos que se arrogam o direito de julgar porque viram uma ou duas experiências, quase sempre realizadas como distracção ou passatempo. Eles dirão, sem dúvida que não dispõem do tempo necessário para esse estudo. Que seja, mas nada os obriga a isso. E quando não se tem tempo para aprender uma coisa, não se pode falar dela, e menos ainda julgá- la, se não se quiser ser acusado de leviandade. Ora, quanto mais elevada é a posição que se ocupe na Ciência, menos desculpável será tratar-se levianamente um assunto que não se conhece.


14. Resumimos nossa opinião nas proposições seguintes:


1º)Todos os fenómenos espíritas têm como princípio a existência da alma, sua sobrevivência à morte do corpo e suas manifestações;


2º) Decorrendo de uma lei da Natureza, esses fenómenos nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras;


3º) Muitos factos são considerados sobrenaturais porque a sua causa não é conhecida; ao determinar-lhes a causa, o Espiritismo os devolve ao domínio dos fenómenos naturais;


4º) Entre os factos qualificados de sobrenaturais, o Espiritismo demonstra a impossibilidade de muitos e os coloca entre as crenças supersticiosas;


5º) Embora o Espiritismo reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, ele não aceita absolutamente que todas as histórias fantásticas criadas pela imaginação sejam da mesma natureza;


6º) Julgar o Espiritismo pelos factos que ele não admite é dar prova de ignorância e desvalorizar por completo a própria opinião;


7º) A explicação dos factos admitidos pelo Espiritismo, de suas causas e suas consequências morais, constituem toda uma Ciência e toda uma Filosofia que exigem estudo sério, perseverante e aprofundado;


8º) O Espiritismo só pode considerar como crítico sério aquele que tudo viu e estudou, em tudo se aprofundando com paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que tenha tanto conhecimento do assunto como adepto mais esclarecido; que não haja, portanto, adquirido seus conhecimentos nas ficções literárias da ciência; ao qual não se possa opor nenhum facto por ele desconhecido, nenhum argumento que ele não tenha meditado e que não tenha refutado apenas por meio da negação, mas por outros argumentos mais decisivos; aquele enfim, que pudesse apontar uma causa mais lógica para os factos averiguados. Esse crítico ainda está para aparecer.(4)


(4) Realmente, esse crítico, ainda em nossos dias, está por aparecer. Basta uma rápida leitura dos livros e artigos publicados hoje contra o Espiritismo, para nos mostrar que a situação não mudou. Cientistas, filósofos, teólogos, sacerdotes, pastores e intelectuais, inclusive adeptos de instituições espiritualistas procedentes do antigo Ocultismo, continuam a criticar levianamente o Espiritismo, sem se darem ao trabalho preliminar de estudá-lo, a não ser ligeiramente e com segundas intenções. (N. do T.)


15. Referimo-nos há pouco à palavra milagre; uma breve observação sobre o assunto não estará deslocada num capítulo sobre o maravilhoso.
Na sua acepção primitiva e por sua etimologia a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa admirável de ver. Mas essa palavra, como tantas outras, desviou-se do sentido original e hoje se diz (segundo a Academia): de um acto da potência divina contrário às leis comuns da Natureza. Essa é, com efeito, a sua acepção usual, e só por comparação ou metáfora se aplica às coisas vulgares que nos surpreendem e cuja causa desconhecemos.
Não temos absolutamente a intenção de examinar se Deus poderia julgar útil, em certas circunstâncias, derrogar as leis por ele mesmo estabelecidas. Nosso objectivo é somente o de demonstrar que os fenómenos espíritas, por mais extraordinários que sejam, não derrogam de maneira alguma essas leis e não têm nenhum carácter miraculoso, tanto mais que não são maravilhosos ou sobrenaturais. O milagre não tem explicação; os fenómenos espíritas, pelo contrário, são explicados da maneira mais racional. Não são, portanto, milagres, mas, simples efeitos que têm sua razão de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda outro carácter: o de ser insólito e isolado. Ora, desde que um facto se reproduz, por assim dizer, à vontade, e por meio de pessoas diversas, não pode ser um milagre.


A Ciência faz milagres todos os dias aos olhos dos ignorantes: eis porque antigamente os que sabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros, e como se acreditava que toda ciência sobre-humana era diabólica, eles eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados, basta enviá-los para os hospícios.


Que um homem realmente morto, como dissemos no início, seja ressuscitado por uma intervenção divina e teremos um verdadeiro milagre, porque isso é contrário às leis da Natureza. Mas se esse homem tem apenas a aparência da morte, conservando ainda um resto de vitalidade latente, e a Ciência ou uma acção magnética consegue reanimá-lo, para as pessoas esclarecidas isso é um fenómeno natural. Entretanto, aos olhos do vulgo ignorante o facto passará por milagroso e o seu autor será rechaçado a pedradas ou será venerado, segundo o carácter dos circunstantes. Que um físico solte um papagaio eléctrico num meio rural, fazendo cair um raio sobre uma árvore, e esse novo Prometeu será certamente encarado como detentor de um poder diabólico. Aliás, diga-se de passagem, Prometeu nos parece sobretudo um antecessor de Franklin; mas Josué, fazendo parar o Sol, ou antes a Terra, nos daria o verdadeiro milagre, pois não conhecemos nenhum magnetizador dotado de tanto poder para operar esse prodígio.
De todos os fenómenos espíritas, um dos mais extraordinários é indiscutivelmente o da escrita directa, um dos que demonstram da maneira mais evidente a acção das inteligências ocultas. Mas por ser produzido pelos seres ocultos, esse fenómeno não é mais miraculoso do que todos os demais, também devidos a agentes invisíveis. Porque esses seres invisíveis, que povoam os espaços, são uma das potências da Natureza, potência que age incessantemente sobre o mundo material, tão bem como sobre o mundo moral.


O Espiritismo, esclarecendo-nos a respeito dessa potência, dá-nos a chave de uma infinidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio, e que em tempos distantes puderam passar como prodígios. Ele revela, como aconteceu com o magnetismo, uma lei desconhecida ou pelo menos mal compreendida; ou, dizendo melhor, uma lei cujos efeitos eram conhecidos, porque produzidos em todos os tempos, mas ela mesma sendo ignorada, isso deu origem à superstição. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os fenómenos se reintegram na ordem das coisas naturais. Eis porque os espíritas, fazendo mover uma mesa ou com que os mortos escrevam, não fazem mais milagres do que o médico ao reviver um moribundo ou o físico ao provocar um raio. Aquele que pretendesse, com a ajuda desta Ciência, fazer milagres, seria um ignorante da doutrina ou um trapaceiro.


16. Os fenómenos espíritas, como os fenómenos magnéticos, passaram por prodígios antes de lhes conhecerem a causa. Ora, os cépticos, os espíritos fortes, que têm o privilégio exclusivo da razão e do bom senso, não crêem naquilo que não podem compreender. Eis porque todos os factos considerados prodigiosos são objecto de suas zombarias. Como a Religião está cheia de factos desse género, eles não crêem na Religião, e disso à incredulidade absoluta vai apenas um passo. O Espiritismo, explicando a maioria desses factos, justifica a sua existência. Vem, portanto, em auxílio da Religião, ao demonstrar a possibilidade de alguns factos que, por não serem milagrosos, não são menos extraordinários. E Deus não é maior nem menos poderoso por não haver derrogado as suas leis.


De quantos gracejos não foram objecto as levitações de São Cupertino! Entretanto, a suspensão etérea dos corpos graves é um facto explicado pela lei espírita. Fomos testemunha ocular desse facto, e o sr. Home, além de outras pessoas nossas conhecidas, repetiram muitas vezes o fenómeno produzido por São Cupertino. Esse fenómeno, portanto, enquadra-se na ordem das coisas naturais.


17. No número dos fenómenos desse género temos de colocar em primeira linha as aparições, que são os mais frequentes. A da Salette, que dividiu o próprio clero, não tem para nós nada de insólito. Não podemos afirmar com segurança a realidade do facto, porque não temos nenhuma prova material, mas o consideramos possível, em vista dos milhares de factos semelhantes e recentes que conhecemos. Acreditamos neles, não somente porque verificamos a sua realidade, mas sobretudo porque sabemos perfeitamente como se produzem. Queiram reportar-se à teoria das aparições, que damos mais adiante, e verão que esse fenómeno se torna tão simples e plausível como uma infinidade de fenómenos físicos que só parecem prodigiosos quando não temos a chave de sua explicação.


Quanto à personagem que se apresentou na Salette, é outra questão. Sua identidade não nos foi absolutamente demonstrada. Aceitamos apenas que uma aparição possa ter ocorrido; o resto não é de nossa competência. Cada qual pode guardar, a esse respeito, as suas convicções. O Espiritismo não tem de se ocupar com isso. Dizemos apenas que os factos produzidos pelo Espiritismo revelam novas leis e nos dão a chave de uma infinidade de coisas que pareciam sobrenaturais. Se alguns desses factos considerados miraculosos encontram assim uma explicação lógica, isso é motivo para que não se apressem a negar o que não compreendem.
Os fenómenos espíritas são contestados por algumas pessoas precisamente porque parecem escapar às leis comuns e não podem ser explicados. Dai-lhes uma base racional e a dúvida cessa. A explicação, neste século em que ninguém se satisfaz com palavras, é portanto um poderoso motivo de convicção. Assim vemos, todos os dias, pessoas que não presenciaram nenhum facto, não viram uma mesa mover-se nem um médium escrever, e que se tornaram tão convictas como nós unicamente porque leram e compreenderam. Se só devêssemos crer no que vemos com os nossos próprios olhos, nossas convicções seriam reduzidas a bem pouca coisa.


Referência: O livro dos médiuns

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