segunda-feira, 16 de julho de 2007

A lei divina ou natural



A Lei Divina ou Natural


I - Caracteres da Lei Natural


614. O que se deve entender por lei natural?


— A lei natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer e ele só se torna infeliz porque dela se afasta.


615. A lei de Deus é eterna?


— É eterna e imutável, como o próprio Deus.(1)


616. Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra?


— Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis, que são imperfeitas, mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.


617. O que as leis divinas abrangem? Referem-se a algo mais do que à conduta moral?


— Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria, o homem de bem as da alma, e as segue.


617-a. É dado ao homem aprofundar umas e outras?


— Sim, mas uma só existência não lhe é suficiente para isso.
Que são, de facto, alguns anos para se adquirir tudo o que constitui o ser perfeito, embora não consideremos mais do que a distância que separa o selvagem do homem civilizado? A mais longa existência possível é insuficiente e com mais forte razão quando ela é abreviada, como acontece com um grande número.
Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência.
As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais.


618. As leis divinas são as mesmas para todos os mundos?


— A razão nos diz que elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam.


(1) Por este princípio: "a lei natural é a lei de Deus, eterna e imutável como Ele mesmo", certos teólogos católicos e protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. O mesmo fizeram com Espinosa, para quem Deus, a substância única é a própria Natureza, mas não no seu aspecto material, e sim nas suas leis. Espinosa respondeu: "Afirmo-o com Paulo, e talvez com todos os filósofos em Deus; ouso mesmo acrescentar que esse foi o pensamento de todos os antigos hebreus". (Carta LXXIII, explicando a proposição XV da "Ética": "Tudo o que existe, existe em Deus, e nada pode existir nem ser concebido sem Deus".)


Embora exista funda divergência entre a concepção espinosiana e a espírita de Deus, ambas concordam ao negar o antropomorfismo católico e protestante, ao reafirmar o princípio paulino acima citado e ao estabelecer identidade de origem e natureza divina para todas as leis do Universo. Por outro lado, assim como Espinosa não confundia a natureza material (natura naturata) com Deus, mas apenas a natureza inteligente (natura naturans), assim também o Espiritismo não faz semelhante confusão, estabelecendo ainda que as leis de Deus são uma coisa e Deus mesmo é outra. Veja-se o capítulo primeiro do Livro Primeiro, sobre Deus. Não há possibilidade de confusão entre Espiritismo e Panteísmo, a menos que se admita como panteísta a doutrina da imanência de Deus, por força mesmo de sua transcendência; e, nesse caso, católicos e protestantes também seriam panteístas. As revoluções actuais no campo da Teologia, particularmente o movimento da Teologia Radical, mostram mais uma vez o acerto da concepção espírita de Deus. (N. do T.)

II - Conhecimento da Lei Natural

619. Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei?

— Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e os que desejam pesquisá-la. Não obstante, um dia todos a compreenderão, porque é necessário que o progresso se realize.
A justiça da multiplicidade de encarnações do homem decorre deste princípio, pois a cada nova existência sua inteligência se torna mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento? (Ver os itens 171 a 222).

620. A alma, antes de sua união com o corpo, compreende melhor a lei de Deus do que após a encarnação?

— Ela a compreende segundo o grau de perfeição a que tenha chegado e conserva a sua lembrança intuitiva após a união com o corpo; mas os maus instintos do homem frequentemente fazem que ela a esqueça.

621. Onde está escrita a lei de Deus?

— Na consciência.(1)

621-a. Desde que o homem traz na consciência a lei de Deus, que necessidade tem de que lha revelem?

— Ele a tinha esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse lembrada.

622. Deus outorgou a alguns homens a missão de revelar a sua lei?

— Sim, certamente; em todos os tempos houve homens que receberam essa missão. São Espíritos superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade.

623. Esses que pretenderam instruir os homens na lei de Deus não se enganaram algumas vezes e não os fizeram transviar-se muitas vezes através de falsos princípios?

— Os que não eram inspirados por Deus e que se atribuíram a si mesmos, por ambição, uma missão, que não tinham, certamente os fizeram extraviar; não obstante, como eram homens de génio, em meio aos próprios erros ensinaram frequentemente grandes verdades.

624. Qual é o carácter do verdadeiro profeta?

— O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo por suas palavras e por suas acções. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade.
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?
— Vede Jesus.

Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra.

Se alguns dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes os desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como leis divinas o que era apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e dominar os homens.

626. As leis divinas e naturais só foram reveladas aos homens por Jesus e antes dele só foram conhecidas por intuição?

— Não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Todos os homens que meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las, desde os séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, o homem pode conhecê-las sempre que desejou procurá-las. Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância e a superstição.

627. Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus qual é a utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Têm eles mais alguma coisa para nos ensinar?

— O ensino de Jesus era frequentemente alegórico e em forma de parábolas, porque ele falava de acordo com a época e os lugares. Faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. É preciso, pois, explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a de espertar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: os que afectam exteriormente a virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e sem equívocos a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua própria razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém possa interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade.(2)

628. Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos?

— É necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.
Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na Antiguidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que consideravam profanos. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenómenos, que eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria das vezes alegórico. Não há, entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germes de grandes verdades, que embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais. São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para vossa instrução.(3)

(1) Descartes, na terceira de suas Meditações Metafísicas declara que a ideia de Deus está impressa no homem "como a marca do obreiro impressa na sua obra". Essa ideia de Deus é inata no homem e o impele à perfeição. Embora as escolas modernas de psicologia neguem a existência de ideias inatas, o Espiritismo sustenta essa existência, através do princípio da reencarnação. Por outro lado, as ideias de Deus, da sobrevivência, do bem e do mal existem e existiram sempre entre todos os povos. A lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura do artista na sua obra. (N. do T.)

(2)Comparar esta resposta com a mensagem do Espírito da Verdade colocada por Kardec como prefácio de "O Evangelho segundo o Espiritismo". Como se vê, desde os primeiros momentos, os Espíritos anunciaram que a finalidade da doutrina era o restabelecimento do Cristianismo. (N. do T.)

(3) Os textos sagrados das grandes religiões, como a Bíblia e os Vedas, os sistemas de antigos filósofos, as doutrinas de velhas ordens ocultas ou esotéricas, todos encerram grandes verdades nas suas contradições aparentes. Os espíritas não devem recuar diante desses sistemas ou ver-lhes apenas as contradições, quando possuem a chave do Espiritismo, com a qual estão aptos a decifrar-lhes os enigmas, descobrindo seus poderosos motivos de esclarecimento. Também nos sistemas modernos de filosofia ou de ciência, por mais contrários que pareçam aos espíritas, uma análise verdadeiramente espírita poderá revelar a existência de grandes verdades. (N. do T.)

III - O Bem e o Mal

629. Que definição se pode dar à moral?

— A moral é a regra da boa conduta e portanto da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.

630. Como se pode distinguir o bem do mal?

— O bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus e o mal é tudo o que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei.

631. O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal?

— Sim, quando ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um e outro.

632. O homem, que é sujeito a errar, não pode enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal?

— Jesus vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso. Assim não vos enganareis.

633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?

— Quando comeis de mais, isso vos faz mal. Pois bem: é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o ultrapassa é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que diz: chega, evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.

634. Por que o mal se encontra na natureza das coisas? Falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?

— Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes. (Ver o item 115) Deus deixa ao homem a escolha do caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas não poderia o homem compreender que se pode subir e descer, e se não existissem rochas não compreenderia que há corpos duros. É necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isso é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo. (Ver item 119).

635. As diferentes condições sociais criam necessidades novas que não são as mesmas para todos os homens. A lei natural pareceria, assim, não ser uma regra uniforme?

— Essas diferentes condições existem na Natureza e estão de acordo com a lei do progresso. Isso não impede a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.
As condições de existência do homem mudam segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que essa diversidade está na ordem das coisas é conforme à lei de Deus, e essa lei, por isso, não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.

636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?

— A lei de Deus é a mesma para todos: mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade.(1)

637. O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é culpado?

— Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: o homem é tanto mais culpado quanto melhor sabe o que faz.
As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O homem comete, frequentemente, faltas que, sendo embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver para compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus que o selvagem que se entrega aos instintos.

638. O mal parece, algumas vezes, ser consequente da força das circunstâncias. Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do nosso semelhante. Pode-se dizer, então, que há infracção à lei de Deus?

— O mal não é menos mal por ser necessário mas essa necessidade desaparece à medida que a alma se depura passando de uma para outra existência; então se torna mais culpável quando o comete, porque melhor o compreende.

639. O mal que se comete não resulta freqüentemente da posição em que os outros nos colocaram, e nesse caso quais são os mais culpáveis?

— O mal recai sobre aquele que a causou. Assim, o homem que é levado ao mal pela posição em que os outros o colocaram é menos culpável que aqueles que o causaram pois cada um sofrerá a pena não somente do mal que tenha feito, mas também do que houver provocado.

640. Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é culpável no mesmo grau?

— É como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se participante dele. Talvez tivesse recuado diante da ação; mas, se ao encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se pudesse ou se tivesse ousado.

641. O desejo do mal é tão repreensível quanto o mal?

— Conforme; há virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo de praticar, sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável.

642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?

— Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.

643. Há pessoas que, por sua posição não tenham possibilidade de fazer o bem?

— Não há ninguém que não possa fazer o bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário.

644. O meio em que certos homens vivem não é para eles o motivo principal de muitos vícios e crimes?

— Sim, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo Espírito no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito da resistência.

645. Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício o mal não se torna para ele um arrastamento quase irresistível?

— Arrastamento, sim, irresistível, não: porque no meio dessa atmosfera de vícios podes encontrar grandes virtudes. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes.

646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?

— O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do obolo da viúva.

(1) As pesquisas sociológicas deram motivo a uma reavaliação em nosso tempo, do conceito tradicional de moral. Entendeu-se que a moral é variável, porque o bem de um povo pode ser mal para outro, e vice-versa. Renouvier, entretanto, em Science de la morale, a compara às matemáticas: é uma ciência que deve fundar-se em puros conceitos. Os sociólogos confundiram moral e costumes, mas ultimamente já distinguiram, na confusão dos costumes, uma regra geral, que é a aspiração comum do bem. Bergson, em Les deux sources de la morale et de la religion, estabelece dois tipos de moral: a fechada, que decorre da coação social, e a aberta, que é individual e não se sujeita às convenções. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada nas consciências. (N. do T.)

IV - Divisão da Lei Natural

647. Toda a lei de Deus está encerrada na máxima do amor ao próximo ensinada por Jesus?
— Certamente essa máxima encerra todos os deveres dos homens entre si; mas é necessário mostrar-lhes a aplicação, pois do contrário podem negligenciá-la, como já o fazem hoje. Aliás, a lei natural compreende todas as circunstâncias da vida e essa máxima se refere a apenas um dos seus aspectos. Os homens necessitam de regras precisas. Os preceitos gerais e muito vagos deixam muitas portas abertas à interpretação.

648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis sobre a adoração, o trabalho, a reprodução, a conservação, a destruição, a sociedade, o progresso, a igualdade, a liberdade, e, por fim, a da justiça, amor e caridade.

— Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes segui-la, sem que ela tenha entretanto nada de absoluto, como não o têm os demais sistemas de classificação, que sempre dependem do ponto de vista sob o qual se considera um assunto. A última lei é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras.
referência: O livro dos espíritos

Nenhum comentário: