quarta-feira, 6 de junho de 2007

suicidio



Suicídio - É possível amenizar os sofrimentos de suas vítimas?
Gebaldo José de Sousa


"Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem?


O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal." (1)


Se o homem não tem o direito de atentar contra a vida do próximo, mas o dever de amá-lo "como a si mesmo", muito menos tem o de eliminar a própria vida. Sobretudo para ser fiel ao quinto mandamento, que preceitua: "não matarás"!


Em seu desequilíbrio, ignoram os suicidas que não há mal que o tempo não cure. E acolhem obsessores cruéis, implacáveis, que os induzem à queda e, pouco a pouco, os submetem à sua vontade doentia, rancorosa.


Não meditam sobre a dor que seu gesto extremo causará naqueles que os amam, não levam em conta seus desdobramentos sobre os que ficam e que são outras tantas vítimas de seu acto impensado: familiares e amigos, dos dois planos da Vida. Só tardiamente lamentam esse esquecimento.


Bem podemos imaginar quão pungentes dores advêm a essas almas, quando sensíveis e amorosas: para os corações das mães, dos pais, esposos, filhos, irmãs, irmãos, ou dos dilectos amigos! É dor amarga, atroz, de todos os momentos, que só o tempo, a prece, a prática do bem e a acção de Espíritos nobres conseguem suavizar.


A Doutrina Espírita é, também para eles, fartos em consolações, indicando meios que aliviam sofrimentos, abreviam provas, asserenam as almas dos que foram e dos que ficaram. Todos eles podem, "aviando as receitas" que a Doutrina do Amor prescreve, ajudar-se, eliminando do coração, da mente, a angústia; e amparar os que partiram.


Abre ela os caminhos à fé e à misericórdia infinita de Deus, pela oração sincera e a prática do bem incessante - enfim, da Caridade, melhor prece que se eleva da Terra aos Céus!


Consola saber que a doce mãe de Jesus é o Espírito sublime que se compadece dos suicidas e lhes estende as mãos; que a "Legião dos Servos de Maria" socorre os Espíritos enfermos que partiram voluntariamente da Terra, conduzindo-os ao "Hospital Maria de Nazaré", onde são medicados, reeducados e preparados para reencarnações reparadoras! É o que nos informa o Espírito Camilo Castelo Branco, pelo médium Yvonne A. Pereira, no livro "Memórias de um Suicida" (2).


A agressão ao corpo físico lesa também o corpo espiritual, denominado pelo Apóstolo Paulo de "corpo celestial" (I Cor. 15-40), que Allan Kardec chamou de perispírito. É ele a matriz que vai registrar, nos corpos das encarnações subsequentes, o resultado dessas lesões, na forma de enfermidades dificilmente curáveis. É preço a pagar pela rebeldia aos desígnios celestes, pelo mau uso do livre-arbítrio.


No livro "Religião dos Espíritos" (3), Emmanuel, comentando no capítulo Suicídio a questão 957 de "O Livro dos Espíritos", assinala que "os resultados (dos suicídios) não se circunscrevem aos fenómenos de sofrimento íntimo, porque surgem os desequilíbrios (...) com impositivos de reajuste em existências próximas." E relaciona enfermidades que, como consequência do suicídio, a Lei impõe aos rebeldes. Convém-nos conhecer na íntegra esse capítulo.


Quem lê os livros assinalados ou a obra "O Céu e o Inferno" (4) (no Cap. V da 2ª Parte há depoimentos de Espíritos suicidas, comentados por Kardec), ou, ainda, "O Livro do Espíritos"1, sobretudo as questões de números 943 a 957, jamais pensará em atentar contra a própria vida. Ao contrário, passará a oferecer preces e a praticar o bem, em favor daqueles que caíram nesse abismo profundo.


Se a muitos assusta a revelação dos sofrimentos atrozes porque passam os suicidas, não apenas no plano espiritual, mas nas reencarnações reparadoras - especialmente àqueles que, ingenuamente, alimentam a ilusão de que o perdão de Deus tudo suprime de forma mágica, instantânea -, também tomar consciência, a todos, do dever que nos cabe de valorizar o corpo de carne, de evitar o suicídio, divulgando a Verdade, consolando e encorajando os aflitos, salientando o valor da prece como sustentáculo nas provas ou como recurso e lenitivo intercessora, em favor dos que caíram, consumando o acto trágico, doloroso.


Os Espíritos nos advertem das provações a que são conduzidos os que, frágeis, tentam fugir da vida. Mas Deus sempre nos dá os meios de superar dificuldades, por maiores sejam elas. Se, extraordinários esses sofrimentos, maior ainda é o amor de Deus, que renova a todos oportunidades de reconstrução do equilíbrio.


Alexandre (5), Espírito, consolando um suicida, afirma-lhe:
"- Nos maiores abismos, Raul, há sempre lugar para a esperança. Não se deixe dominar pela ideia da impossibilidade. Pense na renovação de sua oportunidade, medite na grandeza de Deus. Transforme o remorso em propósito de regeneração.
(...) o trabalho de auxílio fraterno fora iniciado através de orações da esposa carinhosa e desolada."


Tenhamos bom ânimo. Se essas ideias nos vierem à mente; ou se familiar ou amigo partiu da Terra por esse meio, que não elimina a vida, mas acarreta dores atrozes e o submete a provas superiores àquelas de que tenta fugir, recorramos à oração sincera e à prática do bem.
Devemos aprender a confiar, agindo, orando, amando; renunciando; abatendo o orgulho; aceitando a pobreza, se perdermos a fortuna, ou a pessoa amada, por morte, abandono, ou outro motivo; submetendo-nos às provações, que breve passam. Todas as circunstâncias se modificam. No próximo minuto ou no amanhã, surgem oportunidades para superar obstáculos aparentemente intransponíveis e as rudes provas. Confiar, fazendo o melhor de nós.
Devemos orar pelos suicidas, e por outros sofredores, compadecendo-nos de suas dores, sem condená-los. É o que nos diz o amoroso mentor Emmanuel, na obra "Escrínio de Luz" (6), estimulando-nos, encorajando-nos a superar provas, que são "material educativo do templo em que nos asilamos."


Esclarece J. D. Innocêncio:
"Todos os suicidas, sem excepção, lamentam o erro praticado e são acordes na informação de que só a prece alivia os sofrimentos em que se encontram e que lhes pareciam eternos." (7)
A prece é instrumento que atrai bálsamos celestes, que descem dos Céus à Terra, aliviando dores! A prece e a fé são alavancas que ajudam os caídos nos caminhos da evolução. Recorram, pois, aqueles que sofrem esse drama, à prece e, sobretudo, à amorosa intercessão da Mãe Celestial!


Exorta o Espírito Santo Agostinho:
"Se soubésseis quão grande bem faz a fé ao coração e como induz a alma ao arrependimento e à prece! A prece! Ah! Como são tocantes as palavras que saem da boca daquele que ora! A prece é o orvalho divino que aplaca o calor excessivo das paixões. Filha primogénita da fé, ela nos encaminha para a senda que conduz a Deus. (...)" (8)


Há religiões, em oposição a tudo aquilo que nos recomenda a Doutrina de Jesus, que negam a prece aos "mortos" - eis que, conforme ensinam, selada está para sempre a sua sorte: esquecidas de que a misericórdia do Pai estimula a fraternidade e se compadece dos caídos e os busca, para os levantar; outras se recusam a orar pelos suicidas - sofredores dos mais necessitados e aos quais a prece alivia - ou, mesmo, a sepultá-los no "campo santo", como se houvesse no Universo região que não seja obra do Pai de Amor e, portanto, sagrada -; ou que as sábias Leis Divinas se submetessem à ignorância, ao arbítrio dos homens. "Deus é Amor" e esse Amor em tudo se expressa.


A Doutrina Espírita esclarece as mentes e evita o suicídio, além de contribuir para a recuperação do equilíbrio tanto daqueles que estão com a ideia de tentar fugir à vida, quanto daqueles que realizaram esse acto dramático, além de consolar as vítimas que ficaram: parentes e amigos.
Conhecê-la, estudá-la, divulgar seus ensinos, é forma eficaz de se evitar suicídios; de orientar e consolar familiares e amigos; pois fala aos corações com o depoimento vivo dos que tentaram fugir de problemas, mergulhando em dores inimagináveis; assim como daquilo que os alivia e favorece: a prece.


Em nenhuma hipótese se justifica o gesto tresloucado de atentar contra a própria vida. Só a ignorância, a falta de fé em Deus, na Sua bondade, podem levar a criatura a se rebelar contra Seus desígnios.


Espíritos superiores destacam a importância de nos submetermos à soberana vontade do Pai, que a todos nos ama e nos conduz às provas necessárias à nossa evolução. Cumpre-nos, pois, preservar o corpo, instrumento indispensável ao progresso porque todos anelamos, atentos às palavras de Emmanuel:


"A bênção de um corpo, ainda que mutilado ou disforme, na Terra, é como preciosa oportunidade de aperfeiçoamento espiritual, o maior de todos os dons que o nosso Planeta pode oferecer." (9)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 75 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1997. 494p. p. 406: Parte 3ª, Cap. 11, Q. 880; 2 - PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 8 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. 568 p.; 3 - XAVIER, Francisco C. Religião dos Espíritos, pelo Espírito Emmanuel. 3 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974, 255p. pp. 118-119; 4 - KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 37 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. 425p. pp. 295-327: 2ª Parte, Cap. 5; 5 - XAVIER, Francisco C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 12 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. 347p. pp.144-145: Cap. 11; 6 - XAVIER, Francisco C. Escrínio de Luz, pelo Espírito Emmanuel. 2 ed. Matão: Casa Editora O Clarim, 1982. 220p. pp. 157-158; 7 - INNOCÊNCIO, J. D. Suicídio. REFORMADOR, Rio de Janeiro, v. 112, n. 1.988, p. 332, nov. 1994; 8 - KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. 435p. p. 383: Cap. 27, it. 23; 9 - XAVIER, Francisco C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 4 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978. 170p. p.21. Encaminhado ao Prof. Altivo (FEB), em 17.06.97. Publicado em 'Reformador', na edição de dez/97, pp. 370/1.

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