sexta-feira, 22 de junho de 2007

Pneumatografia ou escrita directa


Escrita Directa


146. A Pneumatografia é a escrita produzida directamente pelo Espírito, sem nenhum intermediário. Difere da psicografia porque esta é a transmissão do pensamento do Espírito pela mão do médium.


O fenómeno da escrita directa é indiscutivelmente um dos mais extraordinários do Espiritismo. Por mais estranho que possa parecer à primeira vista, é hoje um facto averiguado e incontestável. Se a teoria é necessária para se compreender a possibilidade dos fenómenos espíritas em geral, mais ainda se torna neste caso, um dos mais chocantes até agora apresentados, mas que deixa de parecer sobrenatural quando compreendemos o princípio em que se funda.


À primeira manifestação desse fenómeno o sentimento dominante foi de desconfiança: a ideia de trapaça ocorreu logo. Porque todos conhecem as tintas chamadas simpáticas, cujos traços invisíveis aparecem algum tempo depois da escrita. Era possível, pois, um abuso da credulidade, e não afirmamos que jamais tenha isso acontecido. Estamos mesmo convencidos de que algumas pessoas, por interesse mercenário, por amor próprio ou para impor a crença nos seus poderes, tenham usado subterfúgios. (Ver o capítulo sobre as Fraudes.)


Mas por se poder imitar alguma coisa é absurdo concluir que ela não exista. Não se conseguiu, nos últimos tempos, encontrar o meio de imitar a lucidez sonambúlica, a ponto de causar ilusão? E por ter esse processo habilidoso corrido mundo, devemos concluir que não há sonâmbulos verdadeiros? Porque alguns comerciantes vendem vinho alterado devemos dizer que não existe o vinho puro? Acontece o mesmo com a escrita directa. Entretanto, as precauções para assegurar a realidade do facto são muito simples e fáceis. Graças a elas, hoje não se pode ter a menor dúvida a respeito. (1)


147. Desde que a possibilidade de escrever sem intermediário é um dos atributos dos Espíritos, que estes sempre existiram e em todos os tempos produziram os diversos fenómenos que conhecemos, devem ter produzido a escrita directa na Antiguidade tão bem como hoje. E é assim que se pode explicar a aparição das três palavras no festim de Baltazar. A Idade Média, tão fecunda em prodígios ocultos que as fogueiras abafavam, deve ter conhecido também a escrita directa. Talvez mesmo se pudesse encontrar na teoria das modificações que os Espíritos produzem na matéria que desenvolvemos no capítulo VIII, o princípio da crença medieval na transmutação dos metais.


Mas quaisquer que tenham sido os resultados obtidos nas épocas anteriores, foi somente depois da vulgarização das manifestações espíritas que se tomou a sério o problema da escrita directa. O primeiro que o deu a conhecer em Paris, nos últimos anos, parece que foi o Barão de Guldenstubbe, ao publicar uma obra muito interessante sobre o assunto, com grande número de fascículos de escritas obtidas. (2) O fenómeno já era conhecido na América há algum tempo. A posição social do Sr. de Guldenstubbe, sua independência, a consideração que desfruta no alto mundo afastam incontestavelmente qualquer suspeita voluntária, pois nenhum motivo interesseiro poderia movê-lo. Poder-se-ia admitir a sua própria ilusão, mas a isso responde decisivamente um facto: a obtenção do mesmo fenómeno por outras pessoas que se cercaram de todas as precauções necessárias para evitar qualquer trapaça ou motivo de engano.
148. A escrita directa é obtida, como a maioria das manifestações espíritas não espontâneas, pelo recolhimento, a prece e a evocação. Muitas vezes foi obtida nas igrejas, sobre os túmulos, junto às estátuas e imagens de personagens evocadas. Mas é evidente que o local só influi por favorecer o recolhimento e a maior concentração mental, pois está provado que é obtida igualmente sem esses acessórios e nos lugares mais comuns, como sobre um simples móvel caseiro, desde que se esteja nas condições morais exigidas e se disponha da necessária faculdade mediúnica (3).


A escrita directa, como a fotografia psíquica e a tiptologia têm sido desprezadas e ridicularizadas por causa de algumas fraudes, como se a fraude não fosse uma constante da espécie humana. Mas de Kardec até hoje as pesquisas sérias sempre confirmam a realidade desses fenómenos. Veja-se o debate sobre psicocinesia na Parapsicologia actual. (N. do T.)


Achava-se a princípio que era necessário colocar um lápis com o papel. O facto, então, poderia ser mais facilmente explicado. Sabe-se que os Espíritos movem e deslocam objectos, que pegam e retiram à distância, podendo assim pegar o lápis e escrever. Desde que o fazem por intermédio da mão dos médiuns ou de uma prancheta, poderiam também fazê-lo de maneira directa. Mas logo se verificou que a presença do lápis era desnecessária, que bastava um simples pedaço de papel, dobrado ou não, para em breves minutos aparecerem as letras. Com isso o fenómeno mudou completamente de aspecto e nos lançou em outra ordem de ideias. As letras são escritas com uma certa substância, e desde que não se forneceu ao Espírito nenhuma substância, ele a teve de produzir, de compô-la por si mesmo. De onde a tirou? Esse o problema.


Reportando-nos às explicações do Cap. VIII, nºs 127 e 128, encontraremos a teoria completa desse fenómeno. O Espírito não se serve de substâncias e instrumentos nossos. Ele mesmo os produz, tirando os seus materiais do elemento primitivo universal, que submete, por sua vontade, às modificações necessárias para atingir o efeito desejado. Assim, tanto pode produzir a grafite do lápis vermelho, a tinta de impressão tipográfica ou a tinta comum de escrever, como a do lápis preto e até mesmo caracteres tipográficos suficientemente duros para deixarem no papel o rebaixo da impressão, como tivemos ocasião de ver (4). A filha de um nosso conhecido, menina de 12 a 13 anos, obteve páginas semelhantes ao pastel.


149. Esse o resultado a que nos conduziu o fenómeno da tabaqueira, relatado no Cap. VII, nº 116, sobre o qual nos estendemos bastante, porque percebemos a oportunidade de sondar uma das leis mais importantes do Espiritismo, cujo conhecimento pode esclarecer diversos mistérios do mundo invisível. É assim que de um facto aparentemente vulgar pode sair a luz. Basta observar com atenção, e é o que todos podem fazer, como nós, quando não se limitarem a ver os efeitos sem procurar as causas. Se a nossa fé se firma dia a dia é porque compreendemos; fazei pois compreender, se quiserdes conquistar adeptos sérios. A compreensão das causas tem ainda outro resultado, que é o de estabelecer uma linha divisória entre a verdade e a superstição.
Se considerarmos a escrita directa quanto às vantagens que pode oferecer, diremos que até o presente a sua principal utilidade consiste na constatação material de um facto importante: a intervenção de um poder oculto que encontra nesse processo um novo meio de se manifestar. Mas as comunicações assim obtidas são raramente de alguma extensão. Em geral são espontâneas e se limitam a palavras, sentenças, frequentemente sinais ininteligíveis. São obtidas em todas as línguas: em grego, em latim, em siríaco, em caracteres hieroglíficos, etc., mas ainda não serviram às conversações contínuas e rápidas que a psicografia ou escrita pela mão do médium permite.


(1) A tendência das pessoas é sempre de generalizar a fraude, mormente em se tratando de Espiritismo. E isso tanto ocorre entre o povo como nos meios científicos. Nesse ponto, como Kardec acentua em várias ocasiões, os sábios preferem ficar no nível do vulgo.


(2) A realidade dos Espíritos e de suas manifestações, demonstrada pelo fenómeno da escrita directa. Pelo Sr. Barão de Guldenstubbe. Volume 8º, com 15 estampas e 93 facsímiles Franck, rua Richelieu, Paris.


(3) As expressões sobre os túmulos, junto a imagens, sobre móveis decorrem das primeiras experiências feitas pelo Sr. Didier Filho e outros membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como se pode ver pelos relatos publicados na Revista Espírita. (N. do T.)


(4) Curioso caso de impressão tipográfica directa vem relatado no vol. III da Revista Espírita, tendo o Espírito ordenado a queima do papel assim impresso e a colocação de outro no lugar em que se obtivera o fenómeno. Obedecido, produziu de novo o mesmo efeito e em condições que excluem a menor suposição de fraude. Esses fenómenos são considerados absurdos por aqueles que jamais os obtiveram, mas basta essa condição negativa para invalidar as suas opiniões. A pesquisa espírita e metapsíquica posterior a Kardec têm comprovado os factos. (N. do T.)

Referência: o livro dos médiuns

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