quinta-feira, 10 de maio de 2007

Mediunidade:teoria e prática


Mediunidade: teoria e práticaAutor:
José Queid Tufaile Huaixan



O Espiritismo está conosco há quase cento e cinquenta anos. Ainda hoje a prática mediúnica é, por assim dizer um tanto primária na maioria dos Centros Espíritas. Se tivermos o cuidado de examinar o conteúdo do que fazemos, vamos verificar que produzimos bem pouco. É pequena a quantidade de desobsessões que conseguimos fazer e quase não dispomos de mensagens mediúnicas que possam ser examinadas racionalmente.Quando precisamos de uma orientação do plano espiritual, procuramos nos aproximar de um médium já conhecido. Porque não temos confiança naqueles que lidam na casa sob nossa responsabilidade. Seria uma limitação dos nossos médiuns ou eles estariam sendo mal orientados em seu desenvolvimento?Quando Allan Kardec tratou da mediunidade e de suas actividades práticas, em nenhum momento disse que os bons médiuns eram raros. Ao contrário, disse que entre dez pessoas, geralmente se pode encontrar três em condições de servirem de ponte. Talvez sejam a forma como tratamos a mediunidade e o método que temos usado para educar os médiuns que não estejam certos.

Controle Universal dos Espíritos

Allan Kardec quando estabeleceu a progressividade da Doutrina Espírita, determinou que somente seriam admitidas mudanças em seus conceitos em duas circunstâncias:

1a) Se a Ciência demonstrasse que a Doutrina Espírita estivesse em erro em algum ponto, ela se modificaria neste ponto.

2a) Se o Controle Universal dos Espíritos determinasse que algum princípio devia ser modificado, ele se modificaria.

A Primeira Revelação de Deus aos homens foi considerada como sendo o trabalho desenvolvido pelo legislador do povo hebreu, Moisés. Resumia-se nos Dez Mandamentos, fundamentos básicos das leis morais. A Segunda Revelação foi a divina missão de Jesus Cristo, que ofereceu aos homens terrenos o Evangelho libertador.O Espiritismo é a Terceira Revelação. Ela estabeleceu, logo a principio, que o Espirito de Verdade não mais seria representado por uma só pessoa, mas falaria em todos os lugares por meio de médiuns, relembrando a doutrina do Cristo e trazendo novidades a respeito da vida espiritual.A Verdade seria divulgada pelos bons Espíritos e suas vozes seriam ouvidas através da mediunidade em vários pontos do globo. As revelações aconteceriam em agrupamentos espíritas de diversas regiões. Allan Kardec foi o homem encarregado de analisar esses trabalhos mediúnicos e classificá-los numa ordem lógica e racional, concedendo a Doutrina Espírita. Daí em diante, qualquer mudança no corpo doutrinário só teria validade se fosse corroborada pela Ciência ou comunicada cm várias sociedades Espíritas sérias, distantes e desconhecidas entre si, o que ficou conhecido como Controle Universal dos Espíritos.Actualmente, sem médiuns seguros e produtivos, não há como se exercer esse controle e uma infinidade de questões duvidosas que já poderiam ter sido resolvidas ficam ao sabor da interpretação pessoal.

Como Allan Kardec definia a Mediunidade?

O Codificador afirmava que a mediunidade é uma espécie de sensibilidade pela qual o homem pode entrar em contacto com o mundo dos Espíritos e pela qual os Espíritos podem agir no plano material. É inerente ao ser humano e não há quem não possua ao menos seus rudimentos. Afirmava que todos somos mais ou menos médiuns, porém, que considerava médiuns somente aqueles que fossem capazes de produzir fenómenos patentes. Vejamos suas palavras, no seu "Estudo sobre os médiuns publicado na Revista Espírita de Março de 1859.

"Como intérpretes das comunicações espíritas, os médiuns tem um papel de extrema importância e nunca seria demasiada a atenção dada ao estudo de todas as causas que os podem influenciar; e isto não só em seu próprio interesse, como também no daqueles que, não sendo médiuns, deles se servem como intermediários. Podemos assim julgar o grau de confiança que merecem as comunicações por eles recebidas.Todos, já o dissemos, são mais ou menos médiuns. Mas, convencionou-se dar este nome aos que apresentam manifestações patentes e, por assim dizer, facultativas. Ora, entre estes, as aptidões são muito diversas: pode-se dizer que cada um tem sua especialidade. Ao primeiro exame, duas categorias se desenham muito nitidamente: os médiuns de efeitos físicos e os médiuns de efeitos inteligentes".

Segundo Kardec, vemos que uma pessoa pode ter mediunidade e, no entanto, não ser médium, pelo menos no sentido de servir de intermediária entre os homens e os Espíritos.Dai já se pode concluir que nem todos que aparecem nos Centros Espíritas precisam desenvolver a mediunidade.

Identificando o médium

O primeiro passo é sabermos distinguir quem deve ou não fazer a tentativa da prática mediúnica. Para isso, é preciso deixar de aceitar alguns conceitos populares sobre a mediunidade:

a) Que todos são médiuns;b) que praticar mediunidade é fazer caridade;c) que as perturbações são produto de mediunidade a ser desenvolvida;d) que a pessoa tem uma missão mediúnica;e) que há um guia querendo trabalhar com ela etc.

Allan Kardec afirmava que a mediunidade não apresenta sinais exteriores e que só se pode identificá-la através de experiências. Convém, pois, observarmos alguns procedimentos administrativos, junto aos companheiros de trabalho:

a) Oferecer aos membros já dotados de algum conhecimento teórico sobre mediunidade, a oportunidade de participarem de sessões práticas. Que esta frequência seja por um período experimental, algo em torno de três meses.

Aqueles que possuem mediunidade ostensiva, logo apresentam sinais de manifestação. Nestes casos, antes de se definir pelo exercício da mediunidade, convém manter o médium sob observação por algumas reuniões, para se ter certos que não está sendo influenciado por obsessores.

b) Considerar como médiuns somente aquelas pessoas em que a faculdade mediúnica se manifestar de forma patente, intensa ou ostensiva.

c) Considerar aqueles que chegam perturbados ao Centro Espírita como necessitados de tratamento e submetê-los à desobsessão por um período entre 30 e 90 dias. As manifestações observadas podem ser produto de um processo obsessivo.

Depois do tratamento, se houver interesse por parte desses pacientes, prepará-los para o ingresso no quadro de trabalhadores do Centro Espírita. Começará pelo estudo teórico e depois as experiências práticas.

d) Aqueles trabalhadores nos quais o nível de influência é baixo, ou quase ausente, não devem ser colocados no desenvolvimento mediúnico. Deverão se ocupar de outras actividades, mesmo na sala mediúnica, pois há casos em que a faculdade só despertará mais tarde.

e) Não encaminhar pessoas estranhas para a mesa de trabalhos mediúnicos. Submetê-las a um período de observação e, se possível, de estudos.

As obsessões espiríticas

Como dissemos no item "C", dentre os que sentem de modo ostensivo a presença dos Espíritos, existem aqueles que estão perturbados por obsessão. Estes não devem ser orientados para o desenvolvimento da mediunidade, e sim encaminhados para a desobsessão.Quando se submete um paciente obsedado ao desenvolvimento da mediunidade, corre-se o risco de vê-lo mergulhar num estado de profundo desequilíbrio. O exercício da mediunidade poderá levar o médium enfermo a sofrer uma maior agressão do obsessor, principalmente se a obsessão apresentar um carácter grave.Allan Kardec diz que a mediunidade obsedada não merece qualquer confiança. Portanto, não há motivo para colocarmos o obsedado na mesa mediúnica.

"A obsessão, como já dissemos, é um dos maiores escolhos da mediunidade. É também um dos mais frequentes. Assim, nunca serão demais as providências para combatê-la. Mesmo porque, além dos prejuízos pessoais que dela resultam, constitui-se um obstáculo absoluto à pureza das comunicações. A obsessão, em qualquer dos seus graus, sendo sempre o resultado de um constrangimento, não podendo jamais este constrangimento ser exercido por um Espírito bom, segue-se que toda comunicação dada por um médium obsedado é de origem suspeita e não merece nenhuma confiança "- (Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Capitulo X»II, item 242).

Deve-se oferecer ao obsediado a assistência espírita, acompanhada de tratamento médico, quando for necessário. Depois, liberto do condicionamento medicamentoso, se a sensibilidade permanecer num nível elevado, o paciente poderá ser encaminhado para a educação mediúnica, se tiver disposição para isso.

Atenção: Não se deve induzir ninguém a desenvolver mediunidade contra sua vontade.

"Não se deve jamais provocar ou encorajar o desenvolvimento das faculdade mediúnicas de pessoas fracas (ou de crianças). Deve-se afastar da prática mediúnica, por todos os meios possíveis, as que apresentem os menores sinais de excentricidade nas ideias ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porque são evidentemente predispostas à loucura, que qualquer motivo de super excitação pode desenvolver" (Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Capítulo XIIIV, item 222).

Estudos

Uma das dificuldades da prática do Espiritismo na actualidade é a falta de estudos da Doutrina. Se de um lado há Centros Espíritas que desenvolvem cursos complexos, parecidos com os de uma escola, dificultando o ingresso dos iniciantes, por outro há casas que se abstêm completamente de qualquer esforço nesse sentido. Em resumo: uns estudam demais, outros de menos.Quando Allan Kardec foi perguntado se o exercício da mediunidade poderia provocar a invasão de maus Espíritos numa pessoa e quais seriam as consequências, assim respondeu demonstrando a importância dos estudos:

"Jamais dissimulamos os escolhos (obstáculos) encontrados na mediunidade, razão por que multiplicamos, em "O Livro dos Médiuns ", as instruções a tal respeito e não temos cessado de recomendar o seu estudo prévio, antes de se entregarem à prática. Assim, desde a publicação daquele livro, o número de obsediados diminuiu sensível e notoriamente, porque poupa uma experiência que os noviços muitas vezes só adquirem às próprias custas. Dizemo-lo ainda, sim, sem experiência a mediunidade tem inconvenientes, dos quais o menor seria ser mistificado pelos Espíritos enganadores e levianos. Fazer Espiritismo experimental sem estudo é fazer manipulações químicas sem saber química" - (Allan Kardec na "Revista Espírita", número de Janeiro de 1863, no "Estudo sobre os possessos de Morzine").

Eis o motivo pelo qual devemos ter um plano de estudos na Casa Espírita. A melhor maneira de iniciar alguém na prática mediúnica é encaminhá-la primeiro ao estudo da teoria de "O Livro dos Médiuns". Caso contrário, ela poderá se transformar num joguete nas mãos de Espíritos trapaceiros.

Inicio dos exercícios mediúnicos

Uma das fases mais delicadas para o iniciante é aquela em que vai exercitar sua mediunidade. A maioria dos que se dedicam ao intercâmbio com os Espíritos possui grande ansiedade para "receber" as manifestações. Porém, as coisas não são tão simples quanto parecem. Este desejo incontido de produzir depressa pode causar-lhes problemas e precisa ser dominado.O exercício da mediunidade é uma fase de aperfeiçoamento psíquico onde o indivíduo se submete à disciplina de certas características de sua personalidade.Os Espíritos inferiores funcionam como excitadores das paixões dos médiuns, mostrando-lhes vários defeitos de sua personalidade que poderão ser corrigidos.As mesas mediúnicas devem contar com pessoas maduras, responsáveis e experientes, capazes de orientarem os novatos com segurança.

A prática mediúnica

Animismo - O animismo é a influência que a alma do médium exerce sobre as comunicações dos Espíritos. Em todas as comunicações mediúnicas é necessário levar em consideração o factor anímico. Deve-se considerar ainda, que a alma do médium também pode comunicar-se, comportando-se como se fosse uma outra entidade.

"O médium, tendo consciência do que escreve, é naturalmente levado a duvidar da sua faculdade: não sabe se a escrita é dele mesmo ou de outro Espírito. Mas ele não deve absolutamente inquietar-se com isso e deve prosseguir apesar da dúvida. Observando com cuidado a si mesmo, facilmente reconhecerá nos escritos muitas coisas que não lhe pertencem, que são mesmo contrárias aos seus pensamentos, prova evidente de que não procedem de sua mente. Que continue, pois, e a dúvida se dissipará com a experiência" - (Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Capítulo XVII, item 214).

a) O animismo se apresenta intenso em quase todos os principiantes. Depois, cai para níveis mais baixos.

b) Nos médiuns onde a faculdade é mais intuitiva, o animismo é bem elevado, chegando a tornar improdutivos alguns deles.

c) A presença ostensiva dos pensamentos do médium nas comunicações é uma coisa natural. Com o tempo a influência diminuirá.

d) Todos os médiuns possuem problemas anímicos, ou seja, dificuldades provenientes do seu próprio Espírito. É comum que essas anormalidades emocionais ou psicológicas aflorem durante o transe mediúnico. Precisamos orientá-los como em qualquer situação de desarmonia.
Espíritos inferiores - Em "O Livro dos Médiuns", Allan Kardec afirma que o maior obstáculo das práticas mediúnicas é a obsessão, ou seja, o domínio que alguns Espíritos inferiores podem adquirir sobre certas pessoas.

Nenhum médium está livre desta influência perniciosa, principalmente quando inicia seu mandato mediúnico. Nesta fase, suas imperfeições morais mais grosseiras são verdadeiros atractivos para as entidades atrasadas e, por esta razão, deve-se estar alerta com a conduta de toda a equipe que trabalha no intercâmbio.

"A dificuldade encontrada pela maioria dos médiuns iniciantes é a de ter que tratar com os Espíritos inferiores, e eles devam considerar-se felizes quando se trata de Espíritos levianos Toda a sua atenção deve ser empregada para não os deixar tomar pé, porque uma vez firmados nem sempre é fácil afastá-los. Esta é uma questão capital, sobretudo no inicio, quando, sem as precauções necessárias, se poderá por a perder as mais belas faculdades" - (Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Capitulo XVII, item 211).

Conselhos práticos

a) O medianeiro deve cuidar-se com uma disciplina o mais sadia possível para que não seja vitima dos Espíritos malévolos do mundo invisível. Toda alteração emocional ou psíquica considerada estranha e persistente devem ser comunicada ao orientador da mesa.

b) Se houver suspeita de obsessão o principiante deve ser afastado dos trabalhos práticos, submetido a um tratamento e depois reconduzido às actividades mediúnicas.

c) Nos casos em que se observar pessoas impressionáveis, de raciocínio confuso, sistemático ou excêntrico, elas devem ser afastadas definitivamente das actividades práticas, conforme recomenda o Codificador.

d) Aos médiuns já desenvolvidos, recomenda-se a meditação em torno desta citação:

"Suponhamos agora a faculdade medianímica completamente desenvolvida. Que o médium escreva com facilidade, que seja o que se chama um médium feito. Seria um grande erro de sua parte considerar-se dispensado de novas instruções. Ele só teria vencido uma resistência material, e é então, que começam as verdadeiras dificuldades. Mais do que nunca necessitará dos conselhos da prudência e da experiência, se não quiser cair nas mil armadilhas que lhe serão preparadas. Se quiser voar muito cedo com suas próprias asas, não tardará a ser enganado por Espíritos mentirosos que procurarão explorar-lhe a presunção" - (Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Capítulo X, II, item 216).

e) Os novatos devem ser assistidos por alguém habituado às relações com o invisível. Deverão instruir-se num estudo metódico de "O Livro dos Médiuns", principalmente dos capítulos que tratam directamente das relações com o mundo invisível. Só após este procedimento, poderá entregar-se às práticas com relativa segurança.

A vida moral do médium Espírita

As faculdades mediúnicas, como disseram os Espíritos, estão ligadas a uma disposição orgânica. O mesmo já não se dá quanto ao seu uso, que depende da condição moral do médium. Se tudo depende da moral, nossos grupos necessitam tê-la como farol orientador da caminhada.

a) Muitas decepções advindas da prática mediúnica são frutos da má orientação moral e prática dadas aos iniciantes pelos que administram as mesas de desenvolvimento.

b) Na actualidade, há uma complacência excessiva com os vícios das pessoas. Médiuns, passistas e membros dos grupos alimentam vícios grosseiros como o fumo, a bebida alcoólica e, nos casos mais graves, o adultério, a desonestidade, a sensualidade exagerada e orgulho.

c) Se estamos dispostos a reformar as práticas do Centro Espírita que participamos, temos que levar em alta conta os aspectos morais dos componentes da casa, pois são eles que sustentam as actividades em todos os sentidos, mormente as mediúnicas.

d) Recomendamos o estudo regular, nas sessões e fora delas, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo". Com isso, se conseguirá elementos morais destinados à auto-reflexão.

e) O trabalhador Espírita estuda sempre. Lê livros teóricos e práticos, porém, deve-se evitar a confusão mental por obras Espíritas. Há médiuns que não conseguem trabalhar em face de sobrecarregarem suas mentes com leituras, gerando dúvidas e falsas interpretações.

f) Não se deve conceber a actividade mediúnica sem o trabalho material. O serviço com os sofredores do mundo terreno auxilia o médium a compreender a dor e lhe dá suporte para os embates com a ignorância espiritual. Todo médium deve prestar serviços de assistência material regularmente.

A Disciplina - O domínio das nossas más inclinações é uma tarefa bastante difícil de ser realizada. No entanto, aqueles que vão lidar com os Espíritos precisam ter um certo domínio sobre si, pelo menos sobre as atitudes mais grosseiras.O médium deve estabelecer uma certa ordem em sua vida pessoal. Precisa aprender a dividir seu tempo entre o trabalho profissional, as actividades no Centro Espírita e a convivência com sua família. Se tiver uma vida muito irregular, a actividade mediúnica vai perturbá-lo mais ainda.Fazemos algumas sugestões: deixar o hábito de fumar; a bebida; a frequência em ambientes mundanos; melhorar sua vida familiar, profissional e adquirir uma conduta regular frente à prece. Tudo isso é disciplinar-se.Conhecer a si mesmo e trabalhar para dominar as próprias imperfeições é o caminho para uma prática mediúnica sadia e o próprio progresso espiritual.

"Antes de nos dirigirmos aos Espíritos, convém, pois, encouraçarmo-nos contra o assalto dos maus, assim como se marchássemos em terreno onde tememos picadas de cobras. Isto se consegue, inicialmente, pelo estudo prévio, que indica a rota e as precauções a tomar; a seguir, a prece. Mas é necessário bem nos compenetrarmos da verdade que o único preservativo está em nós, na própria força, e nunca nas coisas exteriores; que nem há talismãs, nem amuletos, nem palavras sacramentais, nem fórmulas sagradas ou profanas que tenham a menor eficácia se não tivermos em nós mesmos as qualidades necessárias. Assim, essas qualidades é que devem ser adquiridas" - (Allan Kardec na "Revista Espírita", número de Janeiro de 1863, no "Estudo sobre os possessos de Morzine").

Como reconhecer os Espíritos comunicantes - (Questão 267 de "O Livro dos Médiuns")
Podemos resumir os meios de reconhecer a qualidade dos Espíritos nos seguintes princípios:

1º) Não há outro critério para se discernir o valor dos Espíritos senão o bom senso. Qualquer fórmula dada pelos próprios Espíritos, com esse fim, é absurda e não pode provir de Espíritos superiores.

2º) Julgamos os Espíritos pela sua linguagem e as suas acções. As acções dos Espíritos são os sentimentos que eles inspiram e os conselhos que dão.

3º) Os Espíritos bons só podem dizer e fazer o bem, tudo o que é mau não pode provir de um Espírito bom.

4º) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, auto-suficiência, arrogância, fanfarronice ou mordacidade é sinal característico de inferioridade. E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado.
5º) Não devemos julgar os Espíritos pelo aspecto formal e a correcção do seu estilo, mas sondar-lhes o íntimo, analisar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Toda falta de lógica, de razão e de prudência não pode deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome de que o Espírito se enfeite. (Ver questão nº 224 de O Livro dos Médiuns).

6º) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, senão quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as dificuldades ou a facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias. Se duas comunicações com o mesmo nome se contradizem, uma das duas é devidamente apócrifa. A verdadeira será aquela em que nada desminta o carácter conhecido do personagem. Entre duas comunicações assinadas, por exemplo, por São Vicente de Paulo, uma pregando a união e a caridade e outra tendendo a semear a discórdia, não há pessoa sensata que possa enganar-se.

7º) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.

8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação.

9º) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões. É claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudo-sábios escondem sob frases empoladas o vazio das ideias. Sua linguagem é frequentemente pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda.

10º) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição. São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara.

11º) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar.

12º) Os Espíritos superiores mantêm-se, em todas as coisas, acima das puerilidades formais. Os Espíritos vulgares são os únicos que podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as ideias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e mistificação de parte de um Espírito que toma um nome pomposo.

13º) Devemos desconfiar dos nomes bizarros e ridículos usados por certos Espíritos que desejam impor-se à credulidade. Seria extremamente absurdo tomar esses nomes a sério.

14º) Devemos igualmente desconfiar dos Espíritos que se apresentam com muita facilidade usando nomes venerados, e só com muita reserva aceitar o que dizem. Nesses casos, sobretudo, é que um controle severo se torna indispensável. Porque é frequentemente a máscara que usam para levar-nos a crer em pretensas relações íntimas com Espíritos excelsos. Dessa maneira eles lisonjeiam a vaidade do médium e se aproveitam dela para o induzirem a atos lamentáveis e ridículos.

15º) Os Espíritos bons são muito escrupulosos no tocante às providências que podem aconselhar. Em todos os casos têm apenas em vista um fim sério e eminentemente útil. Devemos pois encarar como suspeitas todas aquelas que não tenham esse carácter ou sejam condenáveis pela razão, reflectindo maduramente antes de adopta-las, pois do contrário nos exporemos a mistificações desagradáveis.

16º) Os Espíritos bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de pérfidas insinuações.

17º) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons.

18º) Os Espíritos bons só dão conselhos perfeitamente racionais. Toda recomendação que se afaste da linha recta do bom senso ou das leis imutáveis da Natureza acusa a presença de um Espírito estreito e portanto pouco digno de confiança.

19º) Os Espíritos maus ou simplesmente imperfeitos ainda se revelam por sinais materiais que a ninguém poderão enganar. A acção que exercem sobre o médium é às vezes violenta, provocando movimentos bruscos e sacudidos, uma agitação febril e convulsiva que contrasta com a calma e a suavidade dos Espíritos bons.

20º) Os Espíritos imperfeitos aproveitam-se frequentemente dos meios de comunicação de que dispõem para dar maus conselhos. Excitam a desconfiança e a animosidade entre os que lhes são antipáticos. Principalmente as pessoas que podem desmascarar a sua impostura são visados pela sua maldade.As criaturas fracas, impressionáveis, tornam-se alvo do seu esforço para levá-las ao mal. Usam sucessivamente os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até as provas materiais do seu poder oculto para melhor convencê-las, empenhando-se em desviá-las do caminho da verdade.

21º) Os Espíritos dos que tiveram, na Terra, uma preocupação exclusiva, material ou moral, se ainda não conseguiram libertar-se da influência da matéria continuam dominados pelas idéias terrenas. Carregam parte dos preconceitos, das predileções e até mesmo das manias que tiveram aqui. Isso é fácil de se reconhecer pela sua linguagem.

22º) Os conhecimentos com que certos Espíritos muitas vezes se enfeitam, com uma espécie de ostentação, não são nenhum sinal de superioridade. A verdadeira pedra de toque para se verificar essa superioridade é a pureza inalterável dos sentimentos morais.

23º) Não basta interrogar um Espírito para se conhecer a verdade. Devemos, antes de tudo, saber a quem nos dirigimos. Porque os Espíritos inferiores, pela sua própria ignorância, tratam com leviandade as mais sérias questões. Também não basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem para possuir no mundo espírita a soberana ciência. Só a virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e ampliar os seus conhecimentos.

24º) Os gracejos dos Espíritos superiores são muitas vezes subtis e picantes, mas nunca banais. Entre os Espíritos zombeteiros, mas que não são grosseiros, a sátira mordaz e feita quase sempre muito a propósito.

25º) Estudando-se com atenção o carácter dos Espíritos que se manifestam, sobretudo sob o aspecto moral, reconhece-se a sua condição e o grau de confiança que devem merecer. O bom senso não se enganará.

26º) Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário antes saber julgar-se a si mesmo. Há infelizmente muita gente que toma a sua própria opinião por medida exclusiva do bem e do mal, do verdadeiro e do falso. Tudo o que contradiz a sua maneira de ver, as suas ideias, o sistema que inventaram ou adoptaram é mau aos seus olhos. Falta a essas criaturas evidentemente, a primeira condição para uma recta apreciação: a rectidão de juízo. Mas elas nem o percebem. Esse o defeito que mais enganos produz.

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