sábado, 26 de maio de 2007

aparições no momento da morte


Aparições no Momento da Morte

José Lucas

Parte I

Momentos antes de morrer, muitas pessoas alegam ver junto de si seres conhecidos, familiares e amigos, também já falecidos. Estes estudos têm tido o interesse de muitos pesquisadores.


Ernesto Bozzano (1861-1943) foi um dos mais eruditos sábios dos últimos tempos. Foi um famoso escritor italiano, mundialmente conhecido pelas excelentes obras espíritas legadas ao mundo, através de suas investigações. Uma de suas pesquisas denomina-se «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte» e relata muitos casos confirmados e catalogados de pessoas que tiveram contacto visual com seres conhecidos, familiares, amigos, todos eles já falecidos e que viriam então “buscá-los” para a sua nova vida. Factos muito interessantes que acontecem amiúde, e que os mais desavisados facilmente consideram ser apenas uma alucinação visual, não dando a menor importância aos mesmos.

Ao longo das próximas semanas iremos dissecar, neste espaço, algumas das nuanças existentes neste tipo de fenómenos psíquicos, no momento da morte do corpo físico.

Ensina-nos o Espiritismo (ver “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec) que as pessoas, quando o corpo físico se vai deteriorando ao ponto de não mais suportar a vida no planeta Terra, começam a desligar-se naturalmente, passo a passo, desse mesmo corpo.

«...é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) tornarem-se visíveis perante nós encarnados, isto é, ainda no corpo de carne.»

Sendo o ser humano um espírito eterno, que tem temporariamente um corpo físico, esse ser volta um dia para o mundo espiritual, continuando aí a viver em várias cidades e organizações existentes nesse mesmo mundo espiritual, mas agora, vivendo com o corpo espiritual (denominado de perispírito), que é uma espécie de duplicação do corpo físico, só que em outro estado da matéria.

Nesse sentido, e por um processo de “condensação” molecular desse mesmo corpo espiritual, é possível aos falecidos (chamados de desencarnados, isto é, fora do corpo de carne) tornarem-se visíveis perante nós encarnados, isto é, ainda no corpo de carne. É o que acontece amiúde com pessoas que se encontram em estado de doença prolongada, e que vão assim desligando-se paulatinamente do corpo físico, estando por vezes, no momento da morte, mais “do lado de lá” do que “no lado de cá”, como é usual dizer-se. Essas pessoas, descrevem seres conhecidos, já falecidos, que estão ao seu lado, amistosamente, e relatam muitas vezes suas conversas com esses mesmo seres, podendo inclusive prever com alegria o momento da morte do corpo físico.


Um caso pessoal
Recordo-me de um caso curioso que aconteceu na minha família. A minha avó materna, excelente pessoa com quem tinha muita afinidade, já bastante idosa, entrou em estado de doença. Sendo diabética, poder-se-ia no entanto dizer que a sua doença seria aquilo a que comumente se designa de velhice.

Acamada, e com os extremados zelos da minha mãe, diariamente inteirava-me do seu estado de saúde. Um dia, a minha mãe, muito preocupada, veio dizer-me que a minha avó começara a delirar, isto é, que ao acordar de manhã, falava como se estivesse em outra casa, dizendo que queria ir para a sua casa (onde se encontrava acamada), e relatando com extrema felicidade que seu marido bem como seus pais (já falecidos), estavam muito luminosos, felizes, e que estavam ali com ela. Depois, com o passar dos minutos lá se apercebia que estava em sua casa, realmente.

Neófito no Espiritismo, informei a minha genitora que era muito comum isso acontecer às pessoas que estão para desencarnar (falecer), e que se fosse preparando para o desenlace pois tudo indicaria que assim acontecesse. De facto, passado três semanas de consecutivos relatos diários de visitas dos familiares já falecidos, minha avó acabou por desencarnar em muita paz e serenidade.

Parte II
Vamos hoje referir casos nos quais as aparições dos mortos são percebidas unicamente pelo moribundo e referem-se a pessoas cujo falecimento era por ele conhecido.



As pessoas mais distraídas facilmente dirão que se tratam de alucinações as descrições que os moribundos muitas vezes fazem, de seres conhecidos, já falecidos, que eles dizem estarem ali no momento da morte. No entanto, a investigação e uma análise mais cuidada do assunto, por parte de investigadores conceituados, mostra-nos o contrário. Diz Ernesto Bozzano , investigador e escritor ilustre, italiano, que «...se o pensamento, ardentemente voltado para as pessoas caras, fosse a causa determinante dos fenómenos, o moribundo, em lugar de experimentar exclusivamente formas alucinatórias representando defuntos – por vezes, mesmo, defuntos esquecidos pelo doente – deveria ser sujeito, as mais das vezes, a formas alucinatórias representando pessoas vivas às quais fosse vivamente ligado – o que não se produz... São bem conhecidos casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invariavelmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos assistentes nem o próprio doente o soubessem»(1)

São bem conhecidos casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invariavelmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos assistentes nem o próprio doente o soubessem

Refere ainda Ernesto Bozzano: «... Já citei um facto (VIII Caso), no qual o moribundo, percebendo aparições semelhantes, exclama:

- Como! Mas são pessoas como nós! – Sobre o que o narrador observa: “ Provavelmente ele sentia a imaginação cheia das imagens habituais dos anjos alados e das harpas angélicas; por consequência, nada mais provável que no último momento haja exprimido surpresa, vendo que os mortos que o vinham acolher tinham o aspecto de “pessoas como nós”. Contarei mais adiante (XXIV caso) um terceiro episódio concernente a uma menina de 10 anos, que, por seu turno, manifesta admiração vendo “anjos sem asas”. Ora, esses incidentes apresentam um valor probante real, pois que os fantasmas alucinatórios, como se sabe, tomam formas correspondentes às ideias que se têm figurado, anteriormente, na mentalidade do doente, e não podia ser de outra maneira. Resulta daí que, se a ideia dos anjos alados (de que temos ouvido falar por nossa mãe durante nossa infância e de que mais tarde lemos a descrição na Bíblia e vemos centenas de vezes representada nos quadros de assuntos religiosos), se tivesse gravado nas vias cerebrais do doente, este deveria supor estar vendo anjos com asas. Ora, como vimos nos casos narrados, os moribundos, dominados por essa ideia preconcebida, perceberam fantasmas cuja aparência era contrária á ideia em questão; devemos, pois, concluir que, nas circunstâncias descritas, se trata de aparições verídicas de fantasmas de defuntos e não de alucinações patológicas.» (1)

Caso do moribundo que vê fantasmas de defuntos desconhecidos mas conhecidos da família

Vamos ver um caso de um moribundo que vê fantasmas de defuntos que não conhece, se bem que fossem eles conhecidos dos de sua roda, o que elimina a hipótese da auto-sugestão. (extraído do “Journal of The American Society for Psychical Research, 1907, p-47)

«...Fui encontrar uma senhora, cujo filho, uma criança de 9 anos, morrera há 15 dias. Tinha sido operado de apendicite, dois ou três anos antes e a operação provocara uma peritonite, de que se tinha, no entanto, curado. Mas ficou de novo doente e foi preciso transportá-lo ao hospital para nova operação. Quando acordou da anestesia, estava perfeitamente consciente, reconheceu os seus pais, o médico e a enfermeira. Teve, no entanto, o pressentimento de morrer e pediu à sua mãe que lhe segurasse a mão até à hora de se ir embora... Olhando para o alto, disse:

- Mãe, não vês lá em cima a minha irmãzinha?

- Não, querido, onde a vês tu?

- Aqui; ela olha para mim.

Então a mãe para acalmá-lo, assegurou-lhe que a via também. Algum tempo depois, a criança sorriu de novo e disse:

- Quem está agora é a Sra. C...., que também vem ver-me. (Era uma senhora de quem ele gostava muito e que tinha morrido dois anos antes). Ela sorri e chama-me...

- Chega também Roy. Eu vou com eles, mas não te queria abandonar, mãe, e tu virás em breve ter comigo, não é? Abre a porta e pede-lhes para entrar. Eles estão á espera do lado de fora. E assim dizendo, expirou.

Ia esquecendo a mais importante visão: a da avó. Enquanto a mãe lhe segurava a mão, ele diz:

- Mãe, tu tornas-te cada vez menor; estás sempre com a minha mão presa? A avó está aqui comigo e é muito maior e mais forte que tu, não é?...» (in “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982).

Neste caso foi confirmado que o pequeno de 9 anos, falecido, nunca tinha visto a avó, morta 4 anos antes do seu nascimento, e Roy era um seu amigo morto um ano antes.

Na próxima semana abordaremos outro tipo de manifestações, recomendando a leitura do livro acima referido, que contém casos catalogados, bem interessantes.

(1) “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982


Parte III
Vamos hoje abordar casos nos quais outras pessoas, colectivamente com o moribundo, vêm o mesmo fantasma do defunto.

São comuns os casos em que moribundos relatam a presença de pessoas falecidas junto ao seu leito e que essas presenças são também apercebidas por familiares e / ou acompanhantes desse mesmo moribundo, mesmo que em outra divisão da casa.

Este grupo de casos, percepção colectiva do mesmo fantasma, tem um grande interesse, embora possamos igualmente no plano teórico encontrar outras hipóteses de explicação.

«Com efeito, a coincidência da aparição vista por terceiras pessoas, colectivamente com o moribundo, nos casos de visualidade simultânea, pode atribuir-se a ter este último servido de agente transmissor de uma forma alucinatória elaborada no seu cérebro. Se, ao contrário, o fantasma é percebido pelos assistentes e pelo moribundo, em momentos e em lugares diferentes, o caso, então, atinge grande significação teórica no sentido da sua interpretação espírita». (1)

As evidências das aparições de pessoas falecidas junto de moribundos, dizendo que os vêm buscar e auxiliar no momento do desenlace físico, são indicativos de que a vida continua para além da morte do corpo físico

De realçar os casos em que as pessoas que assistem ao moribundo percebem a aparição no momento em que o doente se encontra em estado de coma, o qual exclui toda e qualquer elaboração do seu pensamento, bem como quando o moribundo é uma criança de tenra idade, circunstância que, na maior parte dos casos, exclui a possibilidade de elaboração mental do doente.

Vejamos um caso bem interessante. Joy Suell, enfermeira diplomada, Inglaterra, depois de exercer a sua profissão durante vinte anos, escreveu um livro sobre Metapsíquica, “The Ministry of Angels”, em que conta as suas próprias experiências como sensitiva clarividente, à cabeceira de inumeráveis doentes a que assistira. O livro é interessante, atraente e instrutivo, e relata casos em que o moribundo percebe, ao lado do leito, personalidades de defuntos que reconhece, mas que são invisíveis para os outros. No seu caso, graças à mediunidade de vidência, ela podia confirmar a presenças de seres espirituais relatados pelo moribundo. Vejamos um caso:

«A primeira vez que tive esta prova ocular foi com M.lle. L..., graciosa jovem de 17 anos, que era minha amiga e morria de tísica, sem sofrimentos; mas o extremo langor do corpo tornava-a moralmente fatigada e desejosa de repouso eterno.

Chegada a hora suprema, percebi-lhe ao lado duas formas espirituais, uma à direita, outra à esquerda do leito. Não me havia apercebido da sua entrada; quando se me tornaram visíveis, estavam já dispostas ao lado da moribunda; eu via-as, porém, tão distintamente como pessoas vivas.

Designei essas radiosas entidades com o nome de anjos... Reconheci logo, nessas formas angélicas, duas meninas que tinham sido, quando vivas, as melhores amigas da doente, possuindo as três a mesma idade.

Um instante antes dessa aparição, a agonizante dissera:

- Fez-se, de repente, a obscuridade; não vejo mais nada. Apesar disso viu e reconheceu, logo depois, uma das suas amigas. Sorriso de suprema felicidade iluminou-lhe o rosto, e, estendendo os braços, perguntou ela, cheia de felicidade:

-Vieram buscar-me? Sinto-me feliz com isso, porque estou fatigada.

E enquanto a agonizante estendia as mãos aos anjos, estes faziam outro tanto, apertando-lhe um a mão direita e outro a esquerda. Seus rostos tinham um sorriso ainda mais doce do que aquele que brilhava no rosto da moribunda, alegre esta, por cedo encontrar o repouso que tanto almejava.

Não falou mais, mas continuou, durante cerca de um minuto, com os braços levantados ao céu, e as mãos unidas às das suas defuntas amigas, não cessando de contemplá-las, com expressão de ventura infinita.

Casos de aparições junto de moribundos em estado de coma ou em crianças de tenra idade, são indicativos da não interferência do psiquismo do doente nestes fenómenos

Em dado momento, as amigas abandonaram-lhe as mãos, que caíram pesadamente sobre o leito. A expirante emitiu um suspiro, como se se dispusesse tranquilamente a dormir, e, depois de alguns instantes, o seu espírito deixava o corpo para sempre. Sobre o rosto, porem, ficou-lhe gravado o doce sorriso que o tinha iluminado, quando percebeu ao lado as duas amigas mortas». (1)

Este e outros casos bem interessantes, que por falta de espaço não publicamos, bem como a análise dos mesmos, poderão ser encontrados no livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte», do conceituado autor italiano Ernesto Bozzano, que recomendamos vivamente.

(1) “Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte”, Ernesto Bozzano, FEB, 3ª edição, 1982


Parte IV
Vamos hoje abordar casos de aparições no leito da morte, coincidindo com prenúncios ou confirmações análogas, obtidas através da mediunidade.


Vamos hoje abordar mais um caso extraído do livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte» , Editora FEB, 3ª ed., 1982, Brasil, caso este retirado por sua vez dos «Annali dello Spiritismo in Italia» de 1875, páginas 120 e 149:
«O Dr. Vincent Gubernári, natural de Maremmes, na Toscana, instalou-se definitivamente em Arcétri, perto de Florença, e, se bem que não fosse médico oficial, exercia aí igualmente a sua profissão. Gubernári, favorecido dos bens da fortuna, esposara Isabel Segardi. Também ela era rica e tinha trazido ao marido um grande dote. Os esposos combinaram fazer uma doação recíproca dos bens e a Sra. Gubernári fizera o seu testamento nesse sentido e supusera que o marido tinha feito outro tanto em seu benefício.

Posto que o Sr. Gubernári, materialista como era, zombasse do Espiritismo e dos Espíritos, não pôde deixar de impressionar-se, vendo muitos dos seus amigos, que ele sabia bem instruídos, isentos de preconceitos, e outrora mais antiespíritas que ele, tornarem-se repentinamente crentes com as manifestações espíritas.

...E o espírito de sua tia manifestou-se, predizendo a sua morte e incentivando-o a melhorar a sua vida moral...

Um belo dia, pois, o doutor, ou porque se quisesse convencer pessoalmente, ou porque se quisesse divertir à custa dos amigos, manifestou-lhes o desejo de tentar uma experiência na própria casa e convidou-os a nela tomar parte. Logo que os experimentadores formaram a cadeia em torno da mesa, um Espírito agitou-a com força surpreendente...e o doutor ficou extremamente admirado quando, perguntando-se o nome do Espírito presente, este lhe respondeu:

- Tua tia Rosa.

O doutor ficara órfão, com pouca idade, e fora educado com ternura por essa tia, que lhe tinha servido de mãe. Quando voltou a si da surpresa exclamou:

- Pois bem, se és verdadeiramente minha tia Rosa, ajuda-me a ganhar muito dinheiro!

- Estou aqui para bem outra coisa – respondeu o Espírito.

- Aqui estou para aconselhar-te a mudar de vida e pensar na tua mulher.

- Já pensei na minha mulher – respondeu, sem vergonha, o doutor – tanto que ambos fizemos os nossos testamentos, com benefícios recíprocos.

- Mentira! – respondeu o Espírito, sacudindo fortemente a mesa, para demonstrar o seu descontentamento – Ela deixou-te tudo, sim, mas tu não lhe deixaste nada!

A Sra. Gubernári tomou parte, então, no diálogo e querendo persuadir o Espírito de que o seu marido tinha feito testamento em seu favor, disse, corajosamente, que ele podia prová-lo, mostrando o mesmo testamento aos amigos presentes.

O doutor, em consequência dessa intervenção inesperada da sua mulher, viu-se comprometido e sem saber como sair do aperto. Sabia o que lhe dizia a consciência e era-lhe impossível mostrar os documentos, declarando que o Espírito não tinha dito a verdade. Muito perturbado com o incidente, declarou, então, que não faria ver a ninguém o testamento. E o Espírito, agitando a mesa com força ainda maior, respondeu:

- Tu és um impostor! Sim, eu repito-te: esqueceste a tua mulher, e no teu testamento só te lembraste da tua criada, porque... Muda, sim, o teu modo de vida e o teu testamento, e apressa-te, porque não tens tempo a perder, dentro de alguns dias estarás connosco no mundo dos Espíritos.

Essa revelação foi como que um raio sobre a cabeça do doutor. Ele ficou aterrado e, depois, com raiva, gritou:

O falecido Dr. Panattôni foi visto pelo moribundo, sem que este soubesse que o espírito se tinha manifestado anteriormente, predizendo a sua morte.

- Como? Tenho que morrer antes da minha mulher, eu que sou mais novo que ela? Não, isso não acontecerá nunca; quero viver ainda e viverei. Assim dizendo, levantou-se irritado tendo terminado a sessão.

No dia seguinte, um amigo, o Coronel Maurício, para o acalmar, disse que fariam outra sessão na casa da Condessa Passeríni, como contraprova, mas sem a presença dele. Nessa reunião foi confirmada a veracidade da comunicação da tia Rosa, assegurando que o médico morreria antes do final do corrente ano. Os amigos disseram-lhe que “os espíritos confirmaram que tinha sido uma mistificação e que não acreditasse”, caso contrário ele ficaria perturbadíssimo. O médico riu-se, feliz, e seguiu a sua vida normalmente.

Na noite de 12 de Novembro o referido médico foi assaltado de febre muito forte, acompanhado de muitas dores, e como sofria horrivelmente, os amigos fizeram nova sessão na casa da Condessa. Aí, manifestou-se um espírito, dizendo-se médico, informando ser o Dr. Panattôni, (parente do deputado do mesmo nome, tinha sido um bom médico e havia exercido a sua profissão em Florença) e que o doente faleceria em breve.

Em 30 de Dezembro de 1874 falecia o Dr. Gubernári dizendo ver perto de si o Espírito do Dr. Panattôni, que não o abandonava um só momento, e à sua cabeceira os espíritos de sua mãe e sua tia Rosa, que o consolavam com a sua presença, e o encorajavam a deixar a vida terrestre (o Dr. Gubernári, nada sabia da manifestação do Dr. Panattôni na sessão em casa da Condessa).»


Parte V
Vamos hoje referir um caso no qual as aparições de pessoas falecidas são percebidas unicamente pelos familiares do moribundo.


Encontrámos um caso bem interessante, no livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte», de Ernesto Bozzano, editora FEB, 3ª ed., 1982, Brasil, caso este retirado do «Journal of the Society for Psychical Research» (1908, pp. 308-311):
«O Dr. Burges envia ao Dr. Hodgson o episódio seguinte, que se passou em presença do Dr. Renz, especialista em moléstias nervosas. M. G., protagonista do episódio, escreve:

“... Antes de descrever os acontecimentos e no interesse daqueles que lerem estas páginas, tenho a declarar que não faço uso de bebidas alcoólicas, nem de cocaína, nem de morfina; que sou e fui sempre moderado em tudo, que não possuo um temperamento nervoso; que minha mentalidade nada tem de imaginativa e que sempre fui considerado como homem ponderado, calmo e resoluto. Acrescento que, não somente nunca acreditei no que se chama – Espiritismo – com os fenómenos relativos de materializações mediúnicas e do corpo astral visível, como fui sempre hostil a essas teorias.

Um caso espantoso em que assitiu ao trabalho espiritual na morte da esposa

A minha mulher morreu às 11h45, da noite de Sexta-feira, 23 de Maio de 1902; e só às 4 horas da tarde desse mesmo dia foi que me persuadi que estava perdida toda a esperança. Reunidos em torno do leito, na expectativa da hora fatal, estávamos muitos amigos, o médico e duas enfermeiras... Assim se passaram duas horas, sem que se observasse nenhuma alteração...às 6h45 (estou certo da hora porque havia um relógio colocado diante de mim, sobre um móvel) aconteceu-me voltar o olhar para a porta de entrada e percebi sobre o sólio, suspenso no ar, três pequenas nuvens muito distintas, dispostas horizontalmente, parecendo cada uma do comprimento de cerca de 4 pés, com 6 a 8 polegadas de volume... O meu primeiro pensamento foi que os amigos (e peço-lhes perdão por esse injustificado juízo) se tinham posto a fumar, além da porta, de maneira que o fumo dos seus charutos penetrasse no quarto. Levantei-me de um salto para ir reprová-los e notei que nas proximidades da porta, no corredor e no quarto, não havia ninguém. Espantado, voltei-me para olhar as nuvenzinhas que, lentamente, mas positivamente, se aproximavam da cama, até que a envolveram por completo.

Olhando através dessa nebulosa, percebi que ao lado da moribunda se conservava uma figura de mulher, de mais de 3 pés de altura, transparente, mas ao mesmo tempo resplandecente de uma luz de reflexos dourados; o seu aspecto era tão glorioso, que não há palavras capazes de descrevê-lo. Ela vestia um costume grego de mangas grandes, largas, abertas; tinha uma coroa à cabeça. Essa forma mantinha-se imóvel como uma estátua no esplendor de sua beleza; estendia as mãos sobre a cabeça da minha mulher, na atitude de quem recebe um hóspede alegremente, mas com serenidade.

Duas formas vestidas de branco, detinham-se de joelhos, ao lado da cama, velando ternamente a minha mulher, enquanto que outras formas, mais ou menos distintas, flutuavam em torno. Acima da minha mulher estava suspensa, em posição horizontal, uma forma branca e nua, ligada ao corpo da moribunda por um cordão que se lhe prendia acima do olho esquerdo, como se fosse o “corpo astral”. Em certos momentos, a forma suspensa ficava completamente imóvel; depois, contraía-se e diminuía até reduzir-se a proporções minúsculas, não superiores a 18 polegadas de comprimento, mas conservando sempre a sua forma exacta de mulher; a cabeça era perfeita, perfeitos o corpo, os braços, as pernas.

Quando o corpo astral se contraía e diminuía, entrava em luta violenta, com agitação e movimento dos membros, com o fim evidente de se desprender e libertar do corpo físico. E a luta persistia até que ele parecia cansar; sobrevinha, então, um período de calma; depois o corpo astral começava a aumentar, mas para diminuir de novo e recomeçar a luta.

Os familiares e amigos falecidos, vêm, no momento do desenlace, ajudar-nos a entrar no outro mundo.

Durante as cinco últimas horas de vida da minha mulher, assisti, sem interrupção, a essa visão pasmosa...Não havia maneira de fazê-la apagar dos meus olhos; se me distraía conversando com os amigos, se fechava as pálpebras, se me achava de outro lado, quando voltava a olhar o leito mortuário, revia inteiramente a mesma visão. No correr das cinco horas experimentei estranha sensação de opressão na cabeça e nos membros; sentia as minhas pálpebras pesadas como quando se está tomado pelo sono, e as sensações experimentadas, unidas ao facto da persistência da visão, faziam-me temer pelo meu equilíbrio mental, e então dizia ao médico muitas vezes: - «Doutor, eu enlouqueço». Enfim, chegou a hora fatal; depois de um último espasmo, a agonizante deixou de respirar e vi, ao mesmo tempo, a forma astral redobrar de esforços para libertar-se. Aparentemente, a minha mulher parecia morta, mas começava a respirar alguns minutos depois, e assim aconteceu por duas ou três vezes. Depois, tudo acabou. Com o último suspiro e o último espasmo, o cordão que a ligava ao corpo astral quebrou-se e eu vi esse corpo apagar-se. As outras formas espirituais, também, assim como a nebulosidade de que fora invadido o quarto, desapareceram subitamente; e, o que é estranho, a própria opressão que eu sentia sumiu-se como por encanto e permaneci de novo como fui sempre, calmo, ponderado, resoluto; dessa forma fiquei em condições de distribuir ordens e dirigir os tristes preparativos exigidos pelas circunstâncias...”

Afirma o Dr. Renz: “Desde que a doente se extinguiu, M. G., que durante cinco horas havia ficado à sua cabeceira, sem dali sair, levantou-se e deu ordens que as circunstâncias requeriam, com expressão tão calma, de homem de negócios, que os assistentes ficaram surpresos. Se ele tivesse sido submetido, durante cinco horas, a um acesso de alucinação, o espírito não se lhe teria tornado claro e normal de um momento para o outro. Dezassete dias já se passaram depois da visão e da morte da sua mulher; M. G. continua a mostrar-se perfeitamente são e normal de corpo e de espírito. (Assinado: Dr. C. Renz)”.»

Parte VI

Terminamos aqui uma série de seis artigos sobre aparições no leito de morte, com exemplo de aparições de defunto produzidas pouco depois de um caso de morte, e percebidas na mesma casa em que jaze o cadáver.


Embora estes factos sejam dos mais raros, não podemos deixar de os referir nesta série de artigos, casos estes retirados do livro «Fenómenos Psíquicos no Momento da Morte» do famoso investigador italiano Ernesto Bozzano. O seguinte caso foi retirado do volume V, pag. 422, dos «Proceedings of the S.P.R.»:
«Agosto , 1886. No sábado, 24 de Outubro de 1868, despedimo-nos dos nosso amigos (os marqueses de Lyns) - com os quais permanecêramos em Malvern Well -, para irmos a Cheltenham, residência de um cunhado do meu marido, Georges Copeland.

Desde algum tempo, já este estava doente, em consequência de um ataque de paralisia, que o havia reduzido à imobilidade, ficando, no entanto, perfeitamente sãs as suas faculdades mentais.

Esta última circunstância fazia que os seus amigos ficassem perto do doente, a fim de adoçar-lhe a desventura, tanto quanto possível. Aproveitando a pouca distância que nos separava, resolvemos, por nossa vez, fazer outro tanto. Fomos, porém, informados de que o doente já tinha outras pessoas em sua casa; decidimos, então, ir para Cheltenham, sem o prevenir, a fim de alugar um apartamento, antes que ele no-lo impedisse de fazer, por um convite. Tomamos vários quartos situados na vizinhança da habitação de Copeland.

Na agonia da morte, muitos familiares e amigos vêm ajudar-nos a desembaraçarmo-nos dos laços que nos ligam ao corpo físico

Feito isto, estávamos prontos para nos ausentar do hotel, quando muitos frascos de remédios, dispostos numa mesa, atraíram o nosso olhar. Perguntámos se havia doentes na casa e informaram-nos que certa senhora R...., hóspede no hotel com a sua filha, estava doente desde algum tempo; era coisa de pouca importância e não havia perigo. Depois dessa ocasião não pensámos mais no assunto. Logo após fomos à casa de Copeland, e no correr da tarde, veio a pronunciar-se o nome dos nossos vizinhos de hotel. Copeland disse, então, que conhecia a Sra. R....; explicou que era viúva de um doutor, ex-clínico em Cheltenham, e que uma das suas filhas se casara com um professor de colégio, um certo Sr. V... Lembrei-me então de Ter conhecido a Sra. V... por ocasião de uma recepção em casa do Dr. Barry e Ter nela feito reparo por causa da sua grande beleza, enquanto ela conversava com a dona da casa. Era tudo o que eu sabia a respeito dessas senhoras.

Na manhã de Domingo, à hora do almoço, observei que o meu marido parecia preocupado. Terminado que foi o repasto, perguntou-me ele:

- Ouviste arrastar uma cadeira há pouco? A velha que mora em baixo morreu na própria cadeira, esta noite; arrastaram esse móvel, trouxeram-na para o quarto.

Fiquei muito impressionada; era a primeira vez que me encontrava nas proximidades de um cadáver; desejei, pois, mudar sem demora, de apartamento. Muitos dos nosso amigos, sabendo do facto, tinham-nos gentilmente oferecido hospitalidade; mas o meu marido, opusera-se, lembrando que uma mudança é sempre um aborrecimento, que meus terrores eram tolos, que ele não achava nenhum prazer em deslocar-se num dia de Domingo, que não era generoso partir porque uma pessoa havia morrido e que, enfim, se assim procedessem para connosco, não nos deixaríamos de aborrecer. Em suma, tivemos de ficar.

Passei o dia na companhia do cunhado e das sobrinhas e só voltamos ao hotel à hora de ir para a cama. Depois de haver adormecido, acordei de repente, como de hábito, alta noite, sem causa aparente e vi distintamente, ao pé da cama, um velho fidalgo, de rosto gordo, rosado e sorridente, com um chapéu na mão.

Estava vestido com um casaco azul-celeste, de talhe antigo, guarnecido de botões de metal; tinha um colete claro e calças da mesma cor.

Visões e descrições da presença de falecidos junto dos moribundos são evidências que muitas vezes não podem ser explicadas de outro modo

Quanto mais o encarava, melhor lhe discernia os menores detalhes do rosto e das vestes. Não me senti muito impressionada; depois de algum tempo ensaiei fechar os olhos durante um ou dois minutos; quando os reabri, o velho fidalgo tinha desaparecido.

Dormi algum tempo depois. Vindo a manhã, propus-me nada dizer a ninguém, do que me tinha acontecido, até que tivesse visto uma das minhas sobrinhas, à qual queria expor o facto, a fim de saber se, por acaso, não haveria nenhuma semelhança entre o Dr. R... e o fidalgo da minha visão. Apesar de me parecer absurda esta ideia, queria certificar-me. Encontrei minha sobrinha, Maria Copeland (hoje senhora Brandling), de volta da igreja, e logo lhe perguntei:

- O Dr. R... não tinha o aspecto de velho fidalgo, de rosto cheio, rosado e sorridente, etc., etc.?...

Ela estremeceu de espanto.

- Quem to disse? - perguntou. - Nós dizíamos, de facto, que ele se assemelhava mais a um bom feitor de fazenda do que a um doutor. Como é estranho que um homem de aspecto tão vulgar tivesse por filha tão bela criatura!

Tal é a narrativa rigorosamente exacta do que me aconteceu. As minhas duas sobrinhas estão ainda vivas e devem lembrar-se exactamente de tudo isso. Naturalmente, não estou em condições de explicar o facto. O corpo da velha senhora jazia no quarto que ficava imediatamente abaixo do nosso. O que me surpreende, sobretudo, é que eu tivesse ficado tão pouco impressionada e que pudesse dormir alguns instantes depois, sem incomodar ninguém. (Assinado: D. Bacchus).»

O marido da Sra. Bacchus confirma o acontecimento:

«Leamington, 27 de Setembro de 1886 - Li a narração da minha mulher a respeito do que sucedeu em Cheltenham, quando nós aí estivemos em 1868. Ela corresponde exactamente ao que a minha mulher contou de viva voz, na manhã que se seguiu ao facto, de que perfeitamente me recordo. Também me lembro que nessa manhã mesma, ela contou todos os detalhes do acontecimento à sua sobrinha. (Assinado: Henry Bacchus).»

De realçar que a declaração da precipiente não ter nunca conhecido e não ter tido nunca a ideia do aspecto do defunto Dr. R..., admitindo-se assim a realidade objectiva da aparição, afastando a hipótese de um fenómeno de auto-sugestão alucinatória, provocado na Sra. Bacchus, pelo pensamento desagradável de ter perto de si o cadáver da Senhora R...»


(Série de seis artigos reproduzidos com autorização da ADEP e dispostos de forma contínua para mais fácil estudo)

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